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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Amo-te pai

Hoje o meu pai faz anos. Já lhe liguei e espero jantar com ele. De resto, o dia passa cada um para seu lado, o que torna, desde logo, este dia imperfeito. Quebrado. Defeituoso. Meu pai é um pai que ama desmesuradamente os filhos, não sabendo amar de forma tão bela, mais nada nem ninguém. É em nós que ele coloca o seu lado mais doce, mais terno, por vezes mais calado. Do muito que poderia aqui escrever apenas quero dividir com vocês um episodio que diz muito dele e de mim.
Tinha 14 anos quando farta dos sumos naturais que minha mãe fazia para o almoço e jantar quando disse que gostava de começar a beber em casa Coca-Cola. Lembro-me na perfeição do cheiro a carne assada e a legumes salteados e sei que era domingo. Meu pai olhou para mim e um silêncio incomodativo caiu sobre a mesa. Meu irmão ainda me deu um toque debaixo da mesa, mas eu continuei desafiadora a olhar para o meu pai. Sabia o quanto ele era contra ingestão de bebidas gaseificadas. Ele continuou a mastigar o que tinha na boca, deu um gole no vinho e pousando o copo olhou para mim e disse:
 - Então chegou a altura de começares a beber um copo de vinho às refeições.
E assim foi. Encheu meu copo de um tinto que odiei e logo foi buscar um branco muito fresco e frutado. Esse não amei logo, mas foi-se entranhando. Foi a minha iniciação ao vinho. Nunca acompanhei uma refeição com Coca-Cola.

Amo-te pai, por isto, pelo aqueloutro, pelas discussões, pelos afagos, pelo tudo e pelo nada que vai sendo a nossa vida.

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