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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Violência perpetuada por jovens

Na aldeia onde vivem os meus pais deu-se um assalto. Uma vizinha ficou sem as suas jóias. Soube-se com rapidez quem foi e facilmente a polícia meteu-lhe a mão em cima e levou-o para a esquadra. Aliás, o moço tinha sido apanhado a tentar vender o ouro roubado. Esteve na esquadra pouco mais do que uma hora passando, de seguida, frente à vizinha roubada com um sorriso vitorioso. Pensando bem sobre como é que procedemos com os nossos jovens tresmalhados, facialmente podemos concluir que no nosso sistema judicial tudo está feito de forma a minimizar a responsabilidade dos jovens delinquentes. Aliás, ao escrever este post reparo que escrevo «jovens delinquentes» e não «criminosos», como se até a própria linguagem tivesse de os proteger. Pensa-se em dar-lhes uma reprimenda achando (no fundo ninguém acha) que vão mudar de rumo, mas eles sabem, melhor que nós próprios, que a idade os protege de tal forma que roubar umas maçãs ou agir com violência é a mesma coisa, ou melhor dizendo, levá-los-á ao mesmo fim: uns abanões no máximo e rua. Acredito que a lei foi pensada e elaborada numa altura em que se via os jovens a roubarem umas carteiras, mas nos dias que correm, onde está o sentido da minoração da pena? Muitos dos jovens que hoje são colocados frente a um tribunal são acusados de que tipo de crimes? Graves ou meros fait-divers? Graves porque os menos graves nem a tribunal chegam. E alguns, começando por brincadeiras de mau gosto, vão aumentando a fasquia até matarem, até tratarem o sistema judicial por tu. E mais do que isso, até ridicularizarem aquilo a que chamamos de segurança individual. Vem-me à memória o caso da Gilberta, o transexual que foi morto com actos de profunda malvadez por um grupo de 13 menores que brincaram espancando, obrigando-o a sevicias sexuais, humilhando, tripudiando ao ponto de Gilberta aparecer morto num prédio abandonado. Sabem quantos desses jovens delinquentes, que supostamente não são criminosos, estão presos? Nenhum! Faz sentido continuar a acreditar na capacidade de regeneração da alma de miúdos que se divertem enquanto matam? Será que alguém acredita que a pena a que são sujeitos, de tão leves, os fazem recuperar o sentido de responsabilidade e passam a ter noção do valor intrínseco que qualquer ser humano tem? Acredito na reabilitação, mas apenas dos crimes onde o prazer de matar não tenha existido. Acredito na reabilitação dos seres que por um acaso da vida, num tropeço de alma, foram levados a cometer um crime porque passavam fome, ou alguém passava; porque o instinto de vida os leva a actos contra outrem, sem que o prazer exista. Não acredito na reabilitação dos que matam por matar, dos que agridem obtendo prazer, dos que roubam sem pruridos.
O rapaz que assaltou a minha vizinha, conheço-o bem. Hoje é menor, amanhã será um homem. No olhar continuará a suportar um ódio que faz vibrar de medo qualquer alma que dele se aproxime. Há no caminho dele, pouco de bom. Quando nos olha, põe a língua de fora e semicerra os olhos como que desafiando. Com a idade, deverá refinar o seu lado pervertido. Resta-nos, já que a justiça é inócua, sabermos, individualmente, viver sem tropeçar nele ou em outros como ele. Ou então que surja, do nevoeiro em que nos encontramos, um novo Padre António Oliveira que pense e dê uma volta a isto a que damos o nome de 'jovens delinquentes'.

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