Dia do doente com artrite reumatoide

Depois do dia do pai, da mãe, dos namorados, dos aniversários sei que o 5 de Abril é o dia do doente com artrite reumatóide. E sei porque eu sou um desses doentes. Vai-se-me pela vontade indómita a agilidade das mãos, dos calcanhares, dos pés, dos joelhos. Vêm as deformações dos mesmos enquanto eu vou andando, entre uma dor e outra e dias mais felizes. Sim tenho dias felizes e sim, pasmem-se, tenho qualidade de vida. Tenho porque tenho um seguro de saúde. Tenho uma boa médica e tenho possibilidade de fazer tratamentos mais ou menos dispendiosos. Não preciso de ir às 5h da matina para um centro de saúde, tentar arranjar consulta, ter a sorte de apanhar um médico português e mais sorte ainda ele saber o que são as doenças reumáticas e medicar-me convenientemente. Vou tendo a sorte de poder ser eu. E essa sorte é também a sorte do meu local de trabalho, porque não falto, porque trabalho como se nada tivesse, porque a qualidade de vida que possuo permite-me corresponder a uma produtividade desejável. Por isso, eu, com meu dinheiro, consigo ser mais e melhor; se assim não fosse, estaria a deambular pelas salas de urgência deste país, entre uma baixa e outra, entre a condição humana da doença degenerativa, entre a cama e o sofá, como sei que acontece em muitos casos.

Hoje o dia não é para mim. É para outros, que com a mesma doença sofrem mais. Estão desamparados. Perdidos entre um sistema de saúde que, não raras vezes, funciona mal. Mas mesmo para esses, o que é que este dia traz de novo? Reflecção? Não… no máximo vai trazendo comiseração que é aquilo que nenhum doente com artrite reumatóide deseja que tenham.