Questões de limpeza

Lá no sítio onde trabalho tínhamos uma senhora da limpeza. Na verdade, tínhamos uma senhora que deveria limpar, mas não o fazia. Tinha problemas de coluna, de mamas, de pés e pernas e isso afectava-lhe o cérebro. Passava o dia entre uma sala e outra, entre uma conversa e outra, entre a copa e um café e outro e limpar, que era para o que lhe pagavam ‘está quieto’. Nada de nada. Até gostávamos da senhora, que era simpática e isso impedia-nos de fazer queixa dela e pedir outra pessoa. Sabíamos que só quando se reformasse o panorama podia melhorar. A senhora foi para uma baixa longa e veio um moçoilo, jovem, com ar de gingão. Calça de ganga justa, lenço ao pescoço, e frequentador do 2001. Um must. Ninguém o imagina senhor das limpezas. Como é jovem, ágil, fresco e leve achámos que agora este sítio ia levar uma volta. Mas não… limpeza não existe. A ele vejo-o na copa, sempre a ser bajulado por umas colegas, histéricas, que quase vivem penduradas no pescoço no moço com uns risinhos incomodativos. E ele vai lançando o seu charme. Tudo o que eu for preciso para não pegar na vassoura ou pano do pó. Não sei se as secretarias delas estão limpas, ou o seu chão, ou o que seja que elas toquem, mas também me parece que o que elas desejam não é que ele limpe, mas que faça… que faça algo por elas, o que até é bom para o trabalho. Elas estão mais motivadas. Chegam mais cedo. Arranjam-se mais e até atendem com mais simpatia. Emagreceram e é vê-las a pulularem enquanto andam. Na verdade, embora fraco numa função, parece-me que a sua existência faz aumentar a produtividade. Coisa que este país precisa mais. E isso descansa-me um pouco.