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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Gente normal precisa-se

Tivemos um namorico há muitos anos atrás. Éramos colegas na faculdade. Ele vivia no centro de Lisboa, bem no coração do Chiado. Tinha um carro e era a custo que conseguia arrumá-lo na sua rua. Por isso, raramente andava no carro sendo que era eu que o ia buscar e levar parte das vezes. E quando ele saia com o seu carro era usual ficar horas dentro dele, no início da rua à espera que alguém saísse para o estacionar. Aquilo irritava-me muito. Perguntava-lhe porque não tentava estacionar mais longe: ‘Não gosto de andar a pé’ ou ‘gosto de ter o carro debaixo de olho’. E isso era aceitável se o carro não fosse um bolinhas a cair de podre, mas pronto, a coisa geria-se. Um dia, ficamos de jantar em casa dele. Chegamos e eu sai do carro e fui organizando o jantar enquanto ele esperava por uma vaga para estacionar o seu ‘ferro velho’. Entrei em casa por volta das sete e estive sozinha até às onze. De vez enquanto olhava pela janela e via-o lá ao fundo, è espera, de cotovelo fora do carro. Quando ele entrou e disse: «Estava a ver que hoje dormia no carro’, eu saí dizendo-lhe ‘ quando fores um tipo normal, liga-me’. E pronto, acabou ali algo que nunca começara a sério. De quando em vez falávamos. No Natal, anos e pouco mais. Passaram anos e anos e Voilá, o L. ligou-me ontem. Soube que tivera uma filha e queria dar-me os parabéns. Falou e falou. Falei e falei. O que fiz o que ele fez e devemos ter estado uma boa hora ao telefone. Por fim perguntei-lhe: ‘que barulho é esse?’ Ao que ele me respondeu’ Estou na rua à espera de um lugar para estacionar’.

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