Pela segunda
vez tive de, num curto espaço de tempo, ir a um apartamento na Rua Pinheiro
Chagas, em Lisboa. Como tenho chegado sempre cedo acabo por tomar um café numa
pastelaria que há mesmo em frente a esse prédio. A primeira vez que lá entrei,
assim que passei do beiral da porta, arrependi-me. Ao balcão estavam dois seres
quase imoveis, um em cada ponto extremo do balcão, e o ambiente pesava. Mas a
montra tinha tantos, mas tantos bolos e bolinhos e bolachas e biscoitos, que
entrei mesmo assim. Sentei-me numa mesa e o tipo diz, numa voz quase sumida e
sem o mínimo de simpatia: O que deseja? Pergunta do balcão para a minha mesa
que estava no canto oposto. Fiz o meu pedido que ele lá veio trazer. A rapariga
mantinha-se estática, parecendo que morreu de pé, ali, naquele canto do balcão.
Dava para perceber que eles tinham estado a discutir, ou que simplesmente
detestavam-se mutuamente. Durante a meia hora que lá estive, mantiveram os seus
postos e ninguém entrou. Era eu e eles. Foi algo tão estranho que nem sei
explicar o motivo de ontem, quando voltei à Pinheiro Chagas, ter entrado lá
novamente. A Pastelaria Toninho, assim se chama, continuava cheia de bolos e
bolinhos, bolachas e biscoitos, e vazia com as duas almas, cada uma no seu lado
do balcão. Voltei a sentar-me mas antes pedi o café e uma bolacha. Ela continuou
sem se mexer e foi o mosca morta que em trouxe o meu pedido à mesa. Continuei
espantada com a quantidade exorbitante de doces que a casa tem e, mais uma vez,
ninguém entrou e ninguém saiu enquanto lá estive. Não sei quem come todos
aqueles doces, nem sei se alguma daquelas alminhas é o dono ou até se são
ambos. Mas ele parece que é torturado todos os dias e ela morreu há muito. A
única coisa que ali tem alma são os doces que os há para todos os gostos. Tenho
vontade de lá entrar novamente. Tentar perceber que sítio é aquele onde não há
clientes, mas há oferta de sobra para ninguém, ou apenas para mim. Se puderem
passem por lá, sentem-se e tentem perceber o que se passa na Pastelaria
Toninho, na Rua Pinheiro Chagas e depois informem-me.
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