Quantas cartas de amor há de
uma mãe para o seu filho? Inúmeras. Incontáveis. Tantas que já nada se deixou
de dizer a um filho, nada, absolutamente nada. Vamos entre ‘eu dava a vida pelo
meu filho’, ‘eu amo mais que tudo o meu filho’, ‘ meu coração agora vive nele’
e isto pode ser dito com mais floreados, mais ou menos metáforas, mais ou menos
comoção, mas resume-se a isto: a nossa vida passou a ser dependente da saúde, das
alegrias e tristezas da vida dos nossos filhos. Mãe que é mãe nunca poderá
estar bem se o filho não estiver e se o filho estiver bem os nossos problemas relativizam-se.
Simples e, no entanto, parece que sentimos uma necessidade de vomitar isto todo
o tempo. Nunca me canso de dizer que amo a minha filha. Nunca. Que voltaria a
fazer tudo para a ter e que o cheiro do pescoço dela me proporciona das maiores
emoções da minha vida (e olhem que tenho uma vida bem vivida).
Primeiro e por uma questão de saúde,
não pensava em ter filhos; depois, ignorei os médicos e quis ter um filho;
depois não conseguia ter um filho e, por fim, consegui e… desabei. Todo o meu
mundo desabou. Recomecei tudo de novo porque nada mais foi o que era. O cheiro
de chocolate quente é mais intenso, gosto muito mais de jardinar, delicio-me
com a manta de croché que ando a fazer, vou no carro e tudo me faz sorrir… sou
mais feliz pelo facto de ela estar cá a abençoar o meu mundo. E isto vai para
dois anos. Esta semana faz dois anos que fui mãe e tudo isto é irónico porque
eu fui a última pessoa a ver a minha filha. Ela nasceu e todos a viram primeiro,
todos a cheiraram primeiro e eu fiquei ali a dormir, anestesiada da cabeça aos
pés e já ela andava de colo em colo. Quando abri os olhos pedi ao meu
anestesista (que adoro) que fosse buscar a minha filha estivesse ela onde
estivesse. E lá vai ele, gordinho e de bata branca, e foi aí, passado uns
minutos, que o vejo a entrar com um embrulho onde só sobressaía uma cara muito
redonda, muito perfeita, muito calma e que ele a coloca sobre mim que senti o
maior, mais profundo aperto no coração de que há história. Começou aí a nossa
linda história de amor. Nunca me preocupei com o facto de ter sido a ultima,
sabia que iriamos ser inseparáveis. E somos. E ela adora encostar-se a mim
(menos do que eu adoro encostar-me a ela); e ela adora ver o panda ao meu lado
(mesmo assim menos do que eu adoro de ver ao lado dela); ela adora dar-me a
roupa para eu estender (menos do que eu gosto quando ela me dá a roupa para eu
estender)… Temos uma historia insubstituível. Única. Como serão grande parte
das historias entre mães e filhos. A minha não será diferente. A minha não é
diferente. E na onda da vulgaridade digo como todas dizem: dava a minha vida por ela, amo mais que tudo a
minha filha e meu coração vive nela.
Sem comentários:
Enviar um comentário