Ontem, à hora do jantar, a
crise entrou-me em casa. Falava dela, questionava-a, preocupava-me, escrevia-a,
mas ainda não a tinha sentido na pele. É assim um género de medo misturado com
um calafrio na espinha. A possibilidade de ir viver para o estrangeiro foi
colocada em cima da mesa. Os motivos foram-me explicados e eu ia contrapondo
até que me calei. Poderei sair de Portugal e isso chocou-me. É como se aqueles
artigos que leio de malta que vai viver para fora e os vou apreendendo com
alguma leviandade de quem diz: eu fazia o mesmo. Claro que têm de lutar pela
sua vida. Não custa assim tanto… e depois chega essa possibilidade e vemos que
afinal nada é assim tão simples. Nada. E como diz a E ‘não tenho alma de
emigrante’. Tenho de imigrante. Vim de Trás-os-Montes para Lisboa e seria capaz
de ir de Lisboa para outra terra (a custo), mas sair de Portugal, bem, é difícil
até só de pensar. Mas é uma hipótese em cima da mesa tão real como estava a
minha salada de feijão-frade com ovos cozidos.
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