A primeira vez que provei sushi
foi de tal forma marcante que ainda hoje me lembro do sítio (em Alcantara), da
disposição das mesas e do suplício que foi. Primeiro eramos três, todos uns
mais transmontanos que os outros. Eu, o meu irmão e a minha cunhada de então.
Todos apreciadores do cabrito assado no forno de lenha da minha mãe e, imaginem
só, daqueles que uma bôla de carne nos leva ao céu. Decidimos ir experimentar
sushi numa altura em que ainda não era moda. Foi há 9 anos e tínhamos saído de
um batizado. Era domingo e chovia imenso. Eu envergava uma blusa de seda com
umas calças pretas e não me lembro de voltar a vestir-me de forma tão formar
para diante na vida. Pedimos, nem sabemos muito bem o quê, e o que veio
detestamos. À medida que o sushi crescia na mesa, nós tentamos tudo para o
comer: imaginamos que estávamos a comer o cabrito da mãe, ou o peixe assado, ou
ainda arroz malandrinho com pataniscas de bacalhau. Nem assim. Era tentar comer
e quase morrer daquilo que estava na boca. O peixe cru dava-me voltas ao
estômago e valeu uma ligeira alteração no estado de alcoolémia para termos
gostado da experiência sem, no entanto, termos gostado do que se comeu. A
seguir fomos comer uns bitoques numa tasca qualquer. Isto para resumir que
hoje, quando um amigo me diz: ‘vamos ao sushi’, eu ter pensado trinta e três vezes
antes de dizer que sim. Sabia que se dissesse que não, teria de ir amanhã ou
depois, porque ele não é dos que desistem. Disse que sim para tentar matar a
coisa logo à nascença. Fomos ao Sushi café nas Amoreiras. Quando lá chegamos vi
em frente a Portugália e pensei que aquilo iria ser demasiado doloroso: comer peixe
cru e ver bifes a nadarem em molho de manteiga na mesa ao lado, e as batatas
fritas a chamarem por mim e eu ter de emborcar maçã enrolada em alface. Mas as
tipas que estavam no sushi eram todas magras e giras e com uma pinta dos diabos
e pensei: Se comer sushi resulta neste aspeto, então eu quero. Ora bem, primeiro vieram as bolsas orientais.
Meti à boca a medo: medo de deixar cair dos pauzinhos antes de chegar à boca e
medo de desatar a vomitar perante um público tão distinto. Aquilo é tudo malta
que tem na mesa-de-cabeceira o Leo Tolstoy, no mínimo. E não é que gostei!
Gostei mesmo. A segunda foi absorvida com entusiasmo e a terceira até com um
misto de emoção. Pensei que aquilo era capaz de comer dia sim, dia sim. Depois
vieram os Apple. Não percebi o nome e até desconfiei, que apple é tudo menos
japonês, e era um misto de maçã verde, com camarão, mais não sei o quê, mais um
pouco de não faço ideia misturado com je ne sais pas e tudo aquilo com um camarão lá enfiado e, oh
meu Deus, fui ao céu. Mesmo. Nessa altura já dispensava as pataniscas de
bacalhau (desculpa mãe). Por fim marchou uma tempura de banana com gelado de
gengibre. Não me sinto nem mais magra, nem mais gira e muito menos com mais
estilo, mas cresce em mim uma vontade grande de me transformar numa expert no
que à comida japonesa diz respeito. Embora ache que as bolas orientais a
acompanharem o cabrito e arroz de forno da minha mãe, não ficavam nada mal.
Ahhhh...eu amo esse restaurante... e aquele pratinho de maça... prazer. Puro prazer...
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