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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sushi numa transmontana e bicicletas voadoras ou porcos a falarem inglês


A primeira vez que provei sushi foi de tal forma marcante que ainda hoje me lembro do sítio (em Alcantara), da disposição das mesas e do suplício que foi. Primeiro eramos três, todos uns mais transmontanos que os outros. Eu, o meu irmão e a minha cunhada de então. Todos apreciadores do cabrito assado no forno de lenha da minha mãe e, imaginem só, daqueles que uma bôla de carne nos leva ao céu. Decidimos ir experimentar sushi numa altura em que ainda não era moda. Foi há 9 anos e tínhamos saído de um batizado. Era domingo e chovia imenso. Eu envergava uma blusa de seda com umas calças pretas e não me lembro de voltar a vestir-me de forma tão formar para diante na vida. Pedimos, nem sabemos muito bem o quê, e o que veio detestamos. À medida que o sushi crescia na mesa, nós tentamos tudo para o comer: imaginamos que estávamos a comer o cabrito da mãe, ou o peixe assado, ou ainda arroz malandrinho com pataniscas de bacalhau. Nem assim. Era tentar comer e quase morrer daquilo que estava na boca. O peixe cru dava-me voltas ao estômago e valeu uma ligeira alteração no estado de alcoolémia para termos gostado da experiência sem, no entanto, termos gostado do que se comeu. A seguir fomos comer uns bitoques numa tasca qualquer. Isto para resumir que hoje, quando um amigo me diz: ‘vamos ao sushi’, eu ter pensado trinta e três vezes antes de dizer que sim. Sabia que se dissesse que não, teria de ir amanhã ou depois, porque ele não é dos que desistem. Disse que sim para tentar matar a coisa logo à nascença. Fomos ao Sushi café nas Amoreiras. Quando lá chegamos vi em frente a Portugália e pensei que aquilo iria ser demasiado doloroso: comer peixe cru e ver bifes a nadarem em molho de manteiga na mesa ao lado, e as batatas fritas a chamarem por mim e eu ter de emborcar maçã enrolada em alface. Mas as tipas que estavam no sushi eram todas magras e giras e com uma pinta dos diabos e pensei: Se comer sushi resulta neste aspeto, então eu quero.  Ora bem, primeiro vieram as bolsas orientais. Meti à boca a medo: medo de deixar cair dos pauzinhos antes de chegar à boca e medo de desatar a vomitar perante um público tão distinto. Aquilo é tudo malta que tem na mesa-de-cabeceira o Leo Tolstoy, no mínimo. E não é que gostei! Gostei mesmo. A segunda foi absorvida com entusiasmo e a terceira até com um misto de emoção. Pensei que aquilo era capaz de comer dia sim, dia sim. Depois vieram os Apple. Não percebi o nome e até desconfiei, que apple é tudo menos japonês, e era um misto de maçã verde, com camarão, mais não sei o quê, mais um pouco de não faço ideia misturado com je ne sais pas  e tudo aquilo com um camarão lá enfiado e, oh meu Deus, fui ao céu. Mesmo. Nessa altura já dispensava as pataniscas de bacalhau (desculpa mãe). Por fim marchou uma tempura de banana com gelado de gengibre. Não me sinto nem mais magra, nem mais gira e muito menos com mais estilo, mas cresce em mim uma vontade grande de me transformar numa expert no que à comida japonesa diz respeito. Embora ache que as bolas orientais a acompanharem o cabrito e arroz de forno da minha mãe, não ficavam nada mal.

1 comentário:

  1. Ahhhh...eu amo esse restaurante... e aquele pratinho de maça... prazer. Puro prazer...

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