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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

DAR



Gosto de surpresas . Gosto de as receber e de as fazer. No dia-a-dia andamos tão envoltos nas nossas coisas, o dinheiro também não sobra e vamos esquecendo de uns mimos aqui e acolá. A Eduarda faz-me muitas surpresas. Vê um bloco de notas do valter hugo mãe ou a agenda do Eduardo Sá e sabendo que eu vou gostar compra e dá-me. E eu adoro. Adoro e guardo-as sagradamente na minha mala. Tenho de andar com elas com medo de as perder ou de não as mimar suficientemente. Adoro mais do que as prendas que recebo nos anos ou no Natal. Por serem a destempo. Por serem tão especiais naquilo que demonstram: que se lembraram de nós sem que o dia obrigasse a lembrarem-se. Adoro e fico sempre enternecida. Esmagada de contente. Não interessa o valor em si, aquilo basta para fazer um dia ou mesmo uma semana acontecer. E hoje quis fazer o mesmo com a minha cunhada. Por ser quem é. Por ser a melhor cunhada do mundo. Talvez por ser a tia que alimenta os dias e as brincadeiras da minha filha. Por estar sempre tão atenta ao que a rodeia, ou se calhar por me rever tanto nela, que quis dar-lhe o livro que ela andava à procura há meses: Shantaram. Fui à fnac, comprei o calhamaço e fiz-lhe chegar ao seu local de trabalho. Por fim fui inundada por uma sensação de bem-estar. De alegria como se fosse a mim que me tinham dado algo. Dar é isto: é receber. Damos tão pouco! Dou tão pouco! Ando nesta coisa meia hippie de dar tudo e mais alguma coisa. Começou com a gana que a minha filha tem de cada vez que vê uma flor: apanha-a e oferece-me. Adora. Adoro. Fico ali a beijá-la e levo a flor para casa e trato dela com todo o cuidado (e eu nem gostava de flores). Ganhei importância a estas coisinhas miúdas da vida. Apetece-me dar o pacote de açúcar ao Nuno porque faz coleção; livros e mais livros à Eduarda; livros de culinária ao JMC; livros de vinhos aos meu irmão e por aí fora. Apetece-me mais dar do que receber. Estranhamente. Hoje sinto-me bem. Hoje fiz alguém feliz. E talvez seja este o segredo de andarmos um pouco melhor neste mundo meio desumano, egoísta: o olharmos nos olhos do outro e dar-lhe aquilo que ele precisa, seja um livro ou um abraço. O que quer que seja. Dá-se. Dar.

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