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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

SE pensa denunciar quem rouba o Estado, é melhor sentar-se e esperar que essa vontade passe


Se uma amiga me diz que uma outra me roubou, o que é que eu faço? Vou penalizar a que me roubou, naturalmente. Não há outra coisa a fazer. Mas se isto se passar a nível Estatal a coisa funciona de maneira diferente. Passo a explicar: um funcionário do Estado denuncia que um outro lesa o próprio Estado, o que é que acontece? Este denunciante vê, a partir daí, a vida feita num inferno. A vida fica feita em retalhos de pequenos nadas e, ou se tem uma grande base familiar e económica para se lutar com as forças todas contra os que denunciaram, ou se morre em vida. O Estado pensa: 'ah, este tipo tentou proteger-me, vamos lá colocá-lo na arena e lançá-lo aos tigres! Oh yeh! Vamos lá ver até quando estes denunciantes resistem, oh! homens de princípios, têm de sofrer, yes! yes! yes! Quem vos manda ter ética? Quem? Denunciar? Não têm mais nada para fazer?

 Eu conheço um denunciante. Sei do que falo. E tenho dificuldade em perceber que país é este que ainda não possui as bases de um Estado de Direito. Porque é que o Estado não protege quem o protegeu? Porque é que o Estado, em primeira instância protege quem o rouba? Gostava tanto que me explicassem, mas tanto! Hoje, no Publico, vem um trabalho (excelente por sinal) sobre isto que vos falo. Entra-se na página 10 e sinto a barriga a encolher. Lê-se e agonia-se. É difícil não ficarmos revoltados e apenas me surgem palavras pouco dignas. Há alturas em que penso que estas coisas se deveriam resolver como o meu tio Zé (que já faleceu) resolvia: um dia um tipo difamou-o e ele não teve meias medidas, saiu de casa rumo ao café e sem perguntar as horas olha para o homem e pregou-lhe um murro tão grande, mas tão grande no meio dos olhos que o outro tombou inanimado. Hospital, policia, tribunal e o meu tio só dizia: posso ser julgado, mas a cana do nariz partida já ninguém lha tira! Foi remédio santo. E eu tenho dias em que acho que este meu amigo devia ser dado como maluco, sair de casa, pespegar um par de bofetadas bem dadas aos corruptos e, depois, esperar sentado, anos e anos, que fosse julgado. Entretanto, já ninguém retirava o amor ferido da besta que continua a fazer uma vidinha santa e na sociedade em que se insere é bem mais aceite do que aquele que tentou proteger esta mesma sociedade. Isto é de doidos, completamente. E se há alguém me está a ler e que pense em denunciar alguém, é melhor sentar-se e esperar que essa vontade passe, senão, tem entrada direta no Inferno. Bem-vindos a Portugal!

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