Gosto (muito) do Pedro Mexia.
Curiosamente, neste ano estive com ele (perto dele que o moço não sabe que eu
existo) em dois concertos: Leonard Cohen e no dos Cowboy Junkies. Achei, assim,
que teríamos muito mais em comum do que à primeira vista poderia pensar. E
sigo-o nos blogs (embora seja um tanto ou quanto inconstante porque acaba um,
começa outro, depois suspende o outro e vai-se a ver e a gaja parece que é ele) como
podem ver nos meus blogs favoritos (o dele é o lei seca que agora está em standby).
E por tudo isto não fiquei surpreendida com o brilhante texto do PM na Atual do
jornal Expresso.
Ele escreve sobre o ter-se 40 anos e
do que isso significa e fui rindo e suspirando e tremendo e angustiando à
medida que lia o texto. Porque numas partes percebo, noutras concordo, noutras
discordo e noutras receio que me tenha revisto aqui e acolá.
Ele escreve «conheço homens de 40 que
ainda se referem às mulheres da sua idade como ‘raparigas’ (…). Não é
cavalheirismo , é habito, fantasia, melancolia.» E eu, que tenho 40, não sabia
que me tratam assim por causa da melancolia que garça nas veias dos homens. Não fazia ideia. Achava que por isso estava a
envelhecer bem, que era por ser eu, que às outras se referiam como ‘mulheres’,
mas não, afinal não.
Mais à frente diz «Há uns tempos,
encontrei na rua uma paixoneta antiga, ainda dos teen, e fiquei horrorizado,
não porque ela tivesse ‘envelhecido mal’, como se diz, mas porque, enfim, tinha
40 anos, ou quase, os mesmos, quase, que eu tenho. E uma paixão adolescente
devia ficar ‘forever young’, elástica e estúpida». E eu acho que fica. Discordei.
Aqui tinha de discordar. Acho mesmo. O que em mim acontece, é que a pessoa que está
à minha frente não é a mesma por quem estive apaixonada há 20 anos atrás. É
outra, é uma de 40. Aquela porque quem estive apaixonada ficou assim, como a conheci,
estática e estupida. Não sei, se calhar a estupida sou eu, mas é assim que
sinto. E aqui dou por mim a achar que entre o sentir de um homem e de uma
mulher, vai um Universo de diferenças. E depois segue-se o murro no estômago,
ou os vários murros que o PM me deu: «Aos 40 vivo com ‘expectativas diminuídas’,
diminutas, em diminuição. Já sei que não sou melhor nem pior que os outros, sei
ao milímetro o que valho, sei perfeitamente que não vou deixar vestígio, que
desapareço quando morrer a última pessoa que me conheceu. E nada disto é trágico»,
É trágico sim, eu sinto como trágico, uma tragédia que me faz diminuir a importância
de mim mesma aos meus olhos (que no fundo é o mais importante). Só pode ser
trágico senão não sentiria este encolher de barriga, de dor, que senti ao ler. É
trágico nada sermos quando já nada formos. E por fim, veio a minha morte lenta
e dolorosa «Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando
não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um
preço que estou disposto a pagar. E há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez
pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo». E eu noto, que eu,
e isso conta o que conta, tenho menos de dez pessoas a perfazerem o meu mundo. E
com esta conta de subtrair senti-me sozinha aos 40 anos. Mas sei que também eu
terei uns anos, ou dias, ou segundos de esplendor inútil. Valha-nos isso. Isso
e conviver este tempo com pessoas como o P Mexia. Gosto dele. E agora vou ali ouvir as musicas que os rapazes e raparigas de 40 ouvem, no desplendor dos seus dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário