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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Do Pedro Mexia


 

 

Gosto (muito) do Pedro Mexia. Curiosamente, neste ano estive com ele (perto dele que o moço não sabe que eu existo) em dois concertos: Leonard Cohen e no dos Cowboy Junkies. Achei, assim, que teríamos muito mais em comum do que à primeira vista poderia pensar. E sigo-o nos blogs (embora seja um tanto ou quanto inconstante porque acaba um, começa outro, depois suspende o outro e vai-se a ver e a gaja parece  que é ele) como podem ver nos meus blogs favoritos (o dele é o lei seca que agora está em standby). E por tudo isto não fiquei surpreendida com o brilhante texto do PM na Atual do jornal Expresso.

Ele escreve sobre o ter-se 40 anos e do que isso significa e fui rindo e suspirando e tremendo e angustiando à medida que lia o texto. Porque numas partes percebo, noutras concordo, noutras discordo e noutras receio que me tenha revisto aqui e acolá.

Ele escreve «conheço homens de 40 que ainda se referem às mulheres da sua idade como ‘raparigas’ (…). Não é cavalheirismo , é habito, fantasia, melancolia.» E eu, que tenho 40, não sabia que me tratam assim por causa da melancolia que garça nas veias dos homens.  Não fazia ideia. Achava que por isso estava a envelhecer bem, que era por ser eu, que às outras se referiam como ‘mulheres’, mas não, afinal não.

Mais à frente diz «Há uns tempos, encontrei na rua uma paixoneta antiga, ainda dos teen, e fiquei horrorizado, não porque ela tivesse ‘envelhecido mal’, como se diz, mas porque, enfim, tinha 40 anos, ou quase, os mesmos, quase, que eu tenho. E uma paixão adolescente devia ficar ‘forever young’, elástica e estúpida». E eu acho que fica. Discordei. Aqui tinha de discordar. Acho mesmo. O que em mim acontece, é que a pessoa que está à minha frente não é a mesma por quem estive apaixonada há 20 anos atrás. É outra, é uma de 40. Aquela porque quem estive apaixonada ficou assim, como a conheci, estática e estupida. Não sei, se calhar a estupida sou eu, mas é assim que sinto. E aqui dou por mim a achar que entre o sentir de um homem e de uma mulher, vai um Universo de diferenças. E depois segue-se o murro no estômago, ou os vários murros que o PM me deu: «Aos 40 vivo com ‘expectativas diminuídas’, diminutas, em diminuição. Já sei que não sou melhor nem pior que os outros, sei ao milímetro o que valho, sei perfeitamente que não vou deixar vestígio, que desapareço quando morrer a última pessoa que me conheceu. E nada disto é trágico», É trágico sim, eu sinto como trágico, uma tragédia que me faz diminuir a importância de mim mesma aos meus olhos (que no fundo é o mais importante). Só pode ser trágico senão não sentiria este encolher de barriga, de dor, que senti ao ler. É trágico nada sermos quando já nada formos. E por fim, veio a minha morte lenta e dolorosa «Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar. E há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo». E eu noto, que eu, e isso conta o que conta, tenho menos de dez pessoas a perfazerem o meu mundo. E com esta conta de subtrair senti-me sozinha aos 40 anos. Mas sei que também eu terei uns anos, ou dias, ou segundos de esplendor inútil. Valha-nos isso. Isso e conviver este tempo com pessoas como o P Mexia. Gosto dele. E agora vou ali ouvir as musicas que os rapazes e raparigas de 40 ouvem, no desplendor dos seus dias.

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