O drama tem um (três na verdade)
nome e um rosto (três). Era mais fácil se não tivesse. Se os jornais
conseguissem esquecer um pouco a venda da curiosidade e apenas se referisse a
uma mãe que matou os filhos e se suicidou de seguida. Era mais fácil para quem
era família ou para quem era amigo ou para quem os conheciam. Era menos
evasivo. Menos doloroso dentro da dor que é funda. Mas a imagem da mãe feliz
com os filhos igualmente felizes nos escaparates vem a dar uma dimensão mais
dramática ao caso. Fossem feios. Fossem infelizes. Fosse uma imagem daquelas
rascas que se tiram para o BI e não teria ouvido tantas vezes ‘eram tão bonitos,
que pena!’, como se a beleza aumentasse o drama. E depois entra-se na tentativa
de se entender à luz de uma racionalidade aquilo que não tem explicação a não
ser no âmbito da insanidade, da doença mental. Os jornais convidam psicólogos e
psiquiatras. Uns até se debruçam sobre a fotografia dizendo que podem parecer
felizes ali, naquele instante do clique, mas que por dentro poderiam estar em
sofrimento. Jura? Eu também pareço feliz numa data de fotografias e sei o
quanto estava infeliz por dentro. E outros que se dedicam a deixarem
comentários nos blogs, no facebook e nos jornais afirmando aquilo que todo o
mundo pensa, que os miúdos deveriam ter sido poupados e que ela era isto e aquilo.
Quem a conhecia sabe o que é verdade.
Sabe o que é mentira. Quem a conhecia sabe relativizar noticias que fazem
manchete. Pormenores que não ajudam. Quem a conhecia fica desfeito pela dor, e
porque os dias que se seguem não a mitigam mas ampliam. E depois, hoje, por
exemplo, tudo volta ao normal. Não vejo ninguém com responsabilidades dizer que
é importante reforçar, repensar a saúde mental em Portugal. Hoje não vejo
ninguém a dizer que se tirou uma lição de todo este drama: que vão haver apoios
psicológicos nos tribunais quando se sabe de antemão que um progenitor vai
ficar sem os seus filhos e que não tem estrutura mental para aguentar a
notícia. Que os filhos de pais doentes vão ser protegidos na escola, no ATL, na
ginástica, no caminho para casa até que os pais se curem. E hoje não vi ninguém
dizer que não obstante de se saber que aquele pai ou aquela mãe não aceitar que
está doente, se é um perigo para si próprio e para os outros que se faça valer
a lei e se interne compulsivamente. Senão, qual a diferença entre uma mulher
deprimida, que vive num quadro de instabilidade com receio que lhe tirem os
filhos e a quem essa noticia lhe é dada assim, a frio, no meio de um tribunal e
deixada à sua sorte, e o rapaz esquizofrénico da minha terra que teve de ser
internado à força porque constituía um perigo para todos?
Eu conhecia a mãe. Próximo de
mim estava quem conhecia a mãe e os miúdos. E agora que passaram estes dias
posso dizer duas coisas com toda a convicção: há mais culpados deste drama e
que, afinal, nada aprendemos com ele.
Beijo.
ResponderEliminarSabes que o título do teu post, foi o primeiro título que dei ao meu...e depois mudei.
ResponderEliminarSubscrevo tudo, tudo. E dou-te abraços e beijos a ti...hoje à noite. :=)
É tão verdade o que escreve ... penso o mesmo . Uma família que nestes dias teima em ficar no meu pensamento ...
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