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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

da mãe que matou os filhos e se suicidou

Hoje já me sinto capaz de abordar o tema. Hoje já consigo chegar aqui e esparramar-me um pouco na página em branco. Hoje sou capaz de jorrar de forma mais simplista e serena aquilo que viveu em mim de forma conflituosa nos últimos dias.

O drama tem um (três na verdade) nome e um rosto (três). Era mais fácil se não tivesse. Se os jornais conseguissem esquecer um pouco a venda da curiosidade e apenas se referisse a uma mãe que matou os filhos e se suicidou de seguida. Era mais fácil para quem era família ou para quem era amigo ou para quem os conheciam. Era menos evasivo. Menos doloroso dentro da dor que é funda. Mas a imagem da mãe feliz com os filhos igualmente felizes nos escaparates vem a dar uma dimensão mais dramática ao caso. Fossem feios. Fossem infelizes. Fosse uma imagem daquelas rascas que se tiram para o BI e não teria ouvido tantas vezes ‘eram tão bonitos, que pena!’, como se a beleza aumentasse o drama. E depois entra-se na tentativa de se entender à luz de uma racionalidade aquilo que não tem explicação a não ser no âmbito da insanidade, da doença mental. Os jornais convidam psicólogos e psiquiatras. Uns até se debruçam sobre a fotografia dizendo que podem parecer felizes ali, naquele instante do clique, mas que por dentro poderiam estar em sofrimento. Jura? Eu também pareço feliz numa data de fotografias e sei o quanto estava infeliz por dentro. E outros que se dedicam a deixarem comentários nos blogs, no facebook e nos jornais afirmando aquilo que todo o mundo pensa, que os miúdos deveriam ter sido poupados e que ela era isto e aquilo. Quem a  conhecia sabe o que é verdade. Sabe o que é mentira. Quem a conhecia sabe relativizar noticias que fazem manchete. Pormenores que não ajudam. Quem a conhecia fica desfeito pela dor, e porque os dias que se seguem não a mitigam mas ampliam. E depois, hoje, por exemplo, tudo volta ao normal. Não vejo ninguém com responsabilidades dizer que é importante reforçar, repensar a saúde mental em Portugal. Hoje não vejo ninguém a dizer que se tirou uma lição de todo este drama: que vão haver apoios psicológicos nos tribunais quando se sabe de antemão que um progenitor vai ficar sem os seus filhos e que não tem estrutura mental para aguentar a notícia. Que os filhos de pais doentes vão ser protegidos na escola, no ATL, na ginástica, no caminho para casa até que os pais se curem. E hoje não vi ninguém dizer que não obstante de se saber que aquele pai ou aquela mãe não aceitar que está doente, se é um perigo para si próprio e para os outros que se faça valer a lei e se interne compulsivamente. Senão, qual a diferença entre uma mulher deprimida, que vive num quadro de instabilidade com receio que lhe tirem os filhos e a quem essa noticia lhe é dada assim, a frio, no meio de um tribunal e deixada à sua sorte, e o rapaz esquizofrénico da minha terra que teve de ser internado à força porque constituía um perigo para todos?   

Eu conhecia a mãe. Próximo de mim estava quem conhecia a mãe e os miúdos. E agora que passaram estes dias posso dizer duas coisas com toda a convicção: há mais culpados deste drama e que, afinal, nada aprendemos com ele.

3 comentários:

  1. Sabes que o título do teu post, foi o primeiro título que dei ao meu...e depois mudei.
    Subscrevo tudo, tudo. E dou-te abraços e beijos a ti...hoje à noite. :=)

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  2. É tão verdade o que escreve ... penso o mesmo . Uma família que nestes dias teima em ficar no meu pensamento ...

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