Por motivos que agora não interessam nada, dei por mim, com
mais um casal completamente inapto no que a vinho diz respeito, numa loja de
vinhos. Atenção, não estávamos como clientes, que não estávamos, mas sim atrás
do balcão. Algo que nunca deveria ter acontecido, ou, a acontecer, não deveria
de entrar cliente algum. Mas entrou. Um senhor cheio de boa vontade, com uma
lista feita por um amigo, o crítico de vinhos João Paulo Martins. Ora bem,
depois do ‘boa tarde’, descambamos. O senhor perguntava aquilo que não sabíamos
responder. Ele queria sugestões para um jantar de amigos e dos inúmeros vinhos
que eu conheço, nenhum existia lá e dos que estavam lá, eu não conhecia. A
Eduarda é a pessoa mais inapta no que a vinho diz respeito, logo a seguir ao
Nuno, o outro elemento deste trio triste, e desatou a pegar em todas as
garrafas e a ler-lhe parte do rótulo (não fosse o senhor ser analfabeto). O
Nuno falava da comida que deveria servir o vinho e até associava a carne ao
tinto e o peixe ao branco. Uma sabedoria única e excecional, este rapaz! Tentamos
vender o vinho pelos mais diversos motivos: aquela garrafa tinha rótulos bonitos,
a outra tinha indicações de ter ganho o prémio que nunca ninguém ouviu falar, a
outra tinha um design de garrafa bem giro e ainda porque sim. O que me deixa a consciência
tranquila é que não enganei ninguém. Dizia-lhe, com pena na voz, que se calhar
era melhor ir a outro sitio, que nós eramos umas bestas no que a vinho diz
respeito e até fui capaz de lhe dizer que aquele branco, para qual ele olhava,
não era bom (ao dono da loja, as minhas sinceras desculpas). Acabamos a
vender-lhe quatro garrafas. Fizemos um bom dinheirinho, mas não que fossemos,
em momento algum, competentes, mas sim porque estava frio, chovia granizo e o
senhor não deveria de estar com disposição de ir a mais nenhum sitio. Embora a
versão do senhor foi que tinha sido bem atendido. Não foi, coitado. E se eu
fosse a ele, depois daquela meia hora, sentava-me no quente do meu carro e
emborcava a primeira garrafa que me viesse à mão.
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