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segunda-feira, 11 de março de 2013

Desmazelada, me confesso


 Aqui há tempos li um post de um blogue que sigo atentamente, o Dolce Far Niente (aqui), em que a Marta dizia que nunca se desleixa. Mesmo quando está em casa e a ideia é não sair, coloca sempre o risco preto nos olhos e cuida-se. Não é a única que conheço que o faz. Tenho mais amigas a fazerem-no. E eu refleti aquilo que reflito sempre que este assunto vem à baila: um dia destes também vou fazer isso. Mas depois, o mais normal, é nada acontecer. Sou a pessoa mais desmazelada do universo quando estou por casa. Camisolas velhas e quentes. Calças velhas e quentes. Meias velhas e quentes. Pantufas velhas e quentes. E o cabelo apertado de forma mais descuidada no alto da cabeça e cara lavada e sem qualquer sombra de pinturas. Depois, nada dá com nada, mas eu gosto de andar assim. Não fico minimamente apresentável. A palavra sexy nem de longe se aplica, mas é quase o meu vício de fim de semana, ou final de dia, ou de férias. É como se desse lugar a outra pessoa. Ontem andava assim, quase indiscritível pela casa. Passei frente a um espelho grande que tenho na sala e olhei. Por momentos fiquei ali a mirar-me e a tentar perceber se me dava para rir ou chorar. Não sei como vos posso explicar a liberdade que sinto quando estou assim e o que mais gosto é não ter trabalho comigo. Apenas refastelar-me pelo sofá com um livro, ou abanar-me com uma boa musica e esquecer-me que tenho cara e corpo. Dizia-me uma amiga há uns bons anos, ainda vivia eu sozinha, que só agia assim porque não tinha ninguém. Não é verdade. Hoje tenho e continuo a fazê-lo. Tento refletir nesta minha atitude. E creio que ajo assim porque, tal como quando me arranjo, não me arranjo para mais ninguém a não ser para mim, para me sentir bem; também quando não me arranjo, também o faço apenas por mim, pelo meu conforto e forma de estar. E agora que refleti posso dizer-vos que gostava de ser diferente. Gostava de ter esse cuidado, ser essa pessoa mais atenta a mim e ao outro. Gostava. Gostava de ser como a Marta ou como a Susana. Mas não consigo. Ainda agora, que aqui estou de vestido esvoaçante, cabelo arranjado, botins altos, dava tudo para estar em casa, de cara lavada, com as minhas calças pretas, as meias castanhas, a camisola verde tropa e um rabo de cabelo mal feito no cimo do meu ser. Gostava, mas tenho de esperar pela noite para me enfiar no outro Eu mais confortavel e bem menos bonito.

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