Como eu gosto e aprecio, assim, mesmo do coração, estes
gajos. Refiro-me ao Catroga e ao seu tipo de pessoa. Ora que o senhor, que foi
um dos negociadores da Troika (aquela coisa que produziu o memorando e que agora,
afinal, não foi bem negociada) afirmou do alto da sua ignorância social que ‘Portugal
devia agradecer ao Gaspar’. Confesso que não sei se o senhor toma alucinogénios,
ou padece de alguma doença mental, mas que com bestialidades destas a saírem-lhe
pela boca, uma das duas é certamente. Ou então é um cego, que não vê, não olha,
não anda neste Portugal dos pequeninos. Mas depois refleti um pouco e creio que
ele se enganou. Não era Portugal que devia de agradecer mas sim ele próprio,
porque um homem que ganha 639 mil euros por ano só pode estar grato ao Gaspar. E se
fosse comigo, mais do que estar grato, levava-o para casa e tomava conta dele,
como cantavam os Da Weasel. Se preciso fosse, agradecia-lhe de joelhos, todos
os dias, ele existir e até lhe limpava o rabinho da forma que a minha amiga Ana
Almeida me ensinou: primeiro com toalhetes e depois, só depois, com papel higiénico.
Percebo a gratidão de todos aqueles que vivem num outro Portugal, sem custos,
sem falta de dinheiro, sem angustias do dia a dia, percebo, o que eu não
percebo é por que o Catroga e outros que tais, com a reforma milionária que
têm, não vão ver o sol nascer no Nepal, que acho que aquilo é giro. Porque por
cá, as pessoas que ficam sem emprego, que labutam todos os dias, que se veem
incapazes de dar, às vezes os mínimos, aos filhos, dispensam comentários de
quem não faz uma pálida ideia do que é a vida real. Se está confortável, podia,
pelo menos, calar-se ou dizer, mesmo não sentindo, que Portugal está a passar
um mau bocado. Mas não, o Catroga faz-me lembrar a Dona Ermelinda, que era uma
senhora rica mas com um mau gosto tremendo que sempre que via alguém assim para
o pobre dizia: deve agradecer a Deus não passar fome, que isso da fome é que é
tramado! Como se ela soubesse o que era a fome. Aquilo vindo da boca dela dava
ganas de ser espancada, violentamente. Assim como com o Catroga, que tem idade
para ter juízo, embora essa coisa do juízo nunca vem com a ferrugem: ou se tem,
ou se mingua dela!
Emocionada com a referência!
ResponderEliminar:) vês as coisas maravilhosas que aprendo contigo? É uma arte, a forma de limpar o rabiosque.
EliminarPor vezes os salários demasiado altos têm como efeito secundário toldar o julgamento.
ResponderEliminarNunca tinha visto isto desse prisma, mas deve ter razão, porque que o senhor (o Catroga) não está a raciocinar convenientemente, isso não está. Também não precisa... até eu não me importava de ter o pensamento toldado se ganhasse o que ele ganha.
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