Há uns
tempos um amigo dizia-me, com um ar chateado, que tinha ido assistir a um
colóquio sobre vinhos e que um dos tipos, na sua dissertação, utilizava uma
data de estrangeirismos em inglês. Dizia que achava que faziam isso numa de
aparentarem alguma intelectualidade, mas que a ele aquilo só o irritava. Hoje
lembrei-me desse comentário porque o formador de Economia Inclusiva tinha um
discurso desse género. O problema foi que tinha ao meu lado um senhor de Bragança que nunca
na vida teve de falar inglês; que nunca precisou de aprender inglês para
executar com qualidade a sua função; que, simplesmente, o inglês para ele
estava ao nível do chinês para mim, ou seja, era totalmente incompreensível. E
então, quando o formador disse:
- (…) podem, quando chegarem a vossa casa, fazer uma search e ver…
O senhor,
muito baixinho, perguntou-me ‘Este gajo que eu faça o quê em casa?’. Là lhe
expliquei. Mais à frente o formador diz:
- (…) Temos de perceber que o bottom line é o social’
o senhor disse ‘merda para o social’, e eu
percebi que ele estava a ficar cada vez mais chateado. E quando o formador se
estica e diz:
- O papel das cidades no enterprise development’
o senhor foi mais longe e comentou-me ao ouvido ‘estes filhos da mãe pensam que
são mais espertos porque usam estas palavras caras, mas eu sei mirandês e
hei-de fazer-lhe uma pergunta em mirandês a ver se o animal gosta!’. Mas
entretanto fomos para intervalo e enquanto bebia o meu chá dizia-lhe que era
normal este género de cruzamentos com pessoas que no âmbito do seu estudo ou
trabalho tiveram de usar outra língua que não o português, e que têm
dificuldades em obter conceitos em português. O senhor não concordou e não em
entendeu. Resolvi deitar uma carta mais alta, um ás de copas e disse-lhe: «Olhe,
às vezes essa mistura é poética e funciona bem. Por exemplo, a Marisa Monte tem
uma musica muito conhecida que diz ‘amor I love you’ e fica mais giro do que se
dissesse Amor eu amo-te», e a esta altura, o senhor olhou-me bem nos olhos e
disse num português perfeito:
- Não sei quem é essa Marisa e eu gosto é do
nosso Quim Barreiros que quando tem de mandar alguém levar no cú di-lo em
português e depois só vai quem quer ou quem gosta, percebe?
Oh yeah!
Toma lá, vai buscar!!
ResponderEliminarMuito bom!!! Esse parceiro tira-te o carro do sítio, minha menina! :=)
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