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segunda-feira, 18 de março de 2013

vida doméstica em off


Deixei a filha com a avó e organizo a minha vida para poder chegar a casa e não fazer jantar, não arrumar cozinha, não organizar a roupa e simplesmente mergulhar no sofá a ler ou a dormitar ou as duas coisas ao mesmo tempo, e eis que vem de lá, algures do espaço, a consciência pesada de que se calhar eu devia mesmo era estar com a minha filha, que a vida é desgastante, que hoje estamos cá e amanhã podemos não estar e devemos aproveitar os filhos ao máximo e todos os segundos do mundo. E estas coisas todas turvam a minha felicidade de estar espojada no sofá. Andamos sempre a mil e depois ansiamos estar, por uma noite que seja, sozinhas, entregues a nós próprias e eis que o universo nos grita ao ouvido que se calhar devíamos estar com as nossas crias, que não nos devíamos estar a sentir bem estando sozinhas. É assim, assumir que precisamos de umas horas sozinhas e, mais ainda, tudo fazer para as ter, pode surtir a ideia que não as queremos ter. Mas a verdade é que às vezes as mães precisam de um botão para colocar no off por umas horas. Certamente para, quando estiver On, estar com outra energia, outro vigor. Raramente preciso. Inicialmente mesmo que precisasse nada fazia para ter este tempo, mas agora, não só assumo que preciso como organizo de forma a poder ter noites como esta em que vos escrevo. Só ainda não consegui fazer com que a consciência não me pesasse ao fazê-lo.

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