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quarta-feira, 17 de abril de 2013

Dos episódios da vida

Ontem fui para a cama tardíssimo. O motivo foi ter descoberto um blog de alguém que falecera no dia anterior à minha descoberta. Li o ultimo post da Silvana, que na realidade se chamava Rita e depois não consegui larga-lo. Fui ao inicio do seu blogue, no final de 2007, e fui por ali fora, entre choro e risos, até ao fim, o seu ultimo post, semanas antes de morrer. Demorei hora e meia a ler todo o blogue, hora e meia e mais uma noite com ela na cabeça. A Rita tinha um cancro e criou o blogue quando começou a sua luta contra essa doença terrível e impiedosa. E era cheia de vida, cheia. Isto pode parecer irónico, como é que uma pessoa pode estar a morrer e dizer que era cheia de vida? Mas a Rita era assim mesmo: tinha a certeza que o seu tempo neste mundo seria curto, que a luta não seria ganha por ela, que tinha um cancro terminal, que, que, que e no entanto era cheia de vida. A emoção que passava para quem a lia dos minutos em que conseguia andar de bicicleta, o prazer em comer sushi e até as calças laranjas que comprou por uma bagatela, retiravam dela um prazer que nós, mesmo a abarrotar de saúde, com as possibilidades de um futuro, à priori, bem mais longo, não conseguimos retirar. E a verdade é que a Rita não me saiu da cabeça o dia todo. Remoí a sua história vezes sem conta. Andei com ela no coração e isso fez com que hoje, se calhar apenas hoje, tenha relativizado tudo aquilo que, normalmente, me incomodaria. E isto é uma merda, porque a pena terrível que temos quando lemos vidas destas é, em grande parte, inerente ao medo que um dia nós, ou alguém que amamos muito, tenham a mesma triste sorte da Rita. É medo, muito medo, apenas esse medo egoísta de quem teme passar pelo mesmo. Dizia ela, a dada altura, que uma em quatro pessoas tem cancro... ela foi o quarto que nós não queremos ser.

Deixo-vos com o blogue dela e releiam quando acharem que a vossa vida é uma merda apesar de estar longe da merda de vida que foram os últimos três anos da Rita.

Que esteja em paz.

AQUI

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