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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lou Reed


Quem como eu, já virou a esquina dos quarenta, tem de conhecer e tem de ter um passado onde teve, numa ou outra ocasião, as músicas de Lou Reed como banda sonora. Se assim não fosse tinha tido uns miseráveis anos oitenta no pelo.

Um dia, andava eu ocupada entre perceber se gostava mais de gin tónico ou vodka limão, na discoteca Minister, em Vila Real, quando me apaixonei perdidamente, durante 24 horas, por um rapaz de quem não me lembro grande coisa a não ser ter-me apresentado Lou Reed. Ao fim de um dia percebi que aquela paixão não tinha pernas para andar, mas fiquei com a cassete que me tinha dado na discoteca e passei a tarde de domingo a ouvir Lou Reed enquanto dilacerava o coração com Florbela Espanca. Nasci assim, para catalisar o sofrimento!

Ontem senti o coração apertado, mesmo sabendo que por muito marcante que um musico seja, isso não lhe dá direito à vida eterna aqui, neste mundo. E por segundos ironizei comigo mesma, afinal, há anos que não esperava uma música dele que me marcasse como me marcaram Perfect Day ou Satellite of Love. Tudo tem um tempo e as musicas existem para nos marcarem naquele preciso segundo de vida. Cresci com Lou Reed da mesma forma que cresci com Bob Dylan ou U2 entre outros. Só mais tarde essas paixões deram lugar ao amor incontestável que possuo por Leonard Cohen. Mas tinha noites onde, já adulta, já madura nos sentimentos, já mãe, apagava as luzes da sala, colocava vinho tinto num copo e deitava-me no chão a ouvir Lou Reed e voltava aquela Frida Kahlo, indecisa entre um gin tónico e uma vodka limão e paixões assolapadas que duravam o enorme instante de um dia. li, entretanto, que ele estava mais contido, mais certinho, mais comum, menos abismo. A vida tem esse condão, o de amolecer a tentativa de açambarcar o mundo com as pernas. Também eu amoleci. Seria uma vida estranha não o ter feito. Foi um Lou Reed normal que morreu ontem, mas às vezes o importante não é normalidade com que se morreu, mas o brilhantismo com que se viveu. Nisso, ajoelho-me perante a sua capacidade de escrever e cantar amores impossíveis ou dolorosos. quem não os teve, que lance a primeira pedra.

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