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domingo, 20 de outubro de 2013

o pequeno senão dos meus fins de semana


Não há dia algum em que esteja a passar a ferro e não me lembre da Marta. A Marta foi minha colega de casa, andávamos na faculdade (não me peçam para dizer quantos anos já lá vão), durante um ano. E na verdade ela não era uma rapariga marcante no geral, mas apenas num pequeno particular: relaxava-a passar a ferro. E como tinha um namorado estranho, que fazia cenas de ciúmes macabras, que lhe azucrinava a cabeça dia sim, dia sim, o usual era chegar a casa e vê-la a passar a roupa dela, a minha e só não ia à vizinha por vergonha. E eu adorava. Durante um ano não passei absolutamente nada. E acresce a esta retórica o facto de ela passar na perfeição. Até as cuecas passava, assim, naquele algodão que têm entrepernas. Depois foi viver com o namorado e soube, anos mais tarde, que um dia cansada de ser infeliz, o deixou, já com dois filhos. Sempre que passo a ferro e naturalmente faço-o todas as semanas, penso na Marta. Uma saudade egoísta. Tento amenizar a agonia colocando uma boa música, bebo chá pelo meio, penso na estrutura do livro que tenho em mãos, no tema da próxima revista, mas mesmo assim, a gana de mandar a roupa pela janela é bastante. Agora fiz uma pausa para vir aqui dizer isto. E isto não tem importância alguma para vocês, que eu sei que não tem, mas para mim foi mais um motivo para deixar de passar a ferro por uns… quatro, cinco minutos.

6 comentários:

  1. se reencontrares a Marta, pede-lhe o contacto. ela relaxa e eu fico com a roupa impecável. a win/win situation. :)

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  2. Faz-me sempre sorrir com as suas palavras... E há pessoas que, por razões por vezes aparentemente sem significado, nos deixam memórias para a vida. E que bom que assim é!

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    1. O curioso, Raquel, é que se calhar ela pensa em mim por alguma razão igualmente prosaica:) beijinhos

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