Não há dia algum em que esteja a
passar a ferro e não me lembre da Marta. A Marta foi minha colega de casa, andávamos
na faculdade (não me peçam para dizer quantos anos já lá vão), durante um ano.
E na verdade ela não era uma rapariga marcante no geral, mas apenas num pequeno
particular: relaxava-a passar a ferro. E como tinha um namorado estranho, que
fazia cenas de ciúmes macabras, que lhe azucrinava a cabeça dia sim, dia sim, o
usual era chegar a casa e vê-la a passar a roupa dela, a minha e só não ia à
vizinha por vergonha. E eu adorava. Durante um ano não passei absolutamente
nada. E acresce a esta retórica o facto de ela passar na perfeição. Até as
cuecas passava, assim, naquele algodão que têm entrepernas. Depois foi viver
com o namorado e soube, anos mais tarde, que um dia cansada de ser infeliz, o
deixou, já com dois filhos. Sempre que passo a ferro e naturalmente faço-o
todas as semanas, penso na Marta. Uma saudade egoísta. Tento amenizar a agonia
colocando uma boa música, bebo chá pelo meio, penso na estrutura do livro que
tenho em mãos, no tema da próxima revista, mas mesmo assim, a gana de mandar a
roupa pela janela é bastante. Agora fiz uma pausa para vir aqui dizer isto. E
isto não tem importância alguma para vocês, que eu sei que não tem, mas para
mim foi mais um motivo para deixar de passar a ferro por uns… quatro, cinco
minutos.
se reencontrares a Marta, pede-lhe o contacto. ela relaxa e eu fico com a roupa impecável. a win/win situation. :)
ResponderEliminarestá prometido, mas primeiro passa aqui por casa, pode ser? :)
Eliminarcombinado! já só falta encontrar a Marta :)
EliminarVou ao encalço dela :)
EliminarFaz-me sempre sorrir com as suas palavras... E há pessoas que, por razões por vezes aparentemente sem significado, nos deixam memórias para a vida. E que bom que assim é!
ResponderEliminarO curioso, Raquel, é que se calhar ela pensa em mim por alguma razão igualmente prosaica:) beijinhos
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