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sábado, 14 de dezembro de 2013

envelhecer


Fui à manicura e olhei atentamente para a rapariga que me arranjava as unhas. Falava e a pronúncia brasileira denunciou as origens. Perguntei-lhe há quanto tempo estava em Portugal . Treze anos. E continuou. Treze anos com muito porque casei, enviuvei, si fudeu tudo, moça e, imagine, vou voltar a casar, né. Olhei-a bem. Pensei que teria uns 49, 50 anos. Rugas vincadas na pele, mais salientes entre a boca fazendo parêntesis no sorriso. A dada altura perguntei-lhe pela idade. 42, disse. Olhei-a. Calei-me. Eu tenho menos um. Não sei se estou velha como ela. Não sei se ao ver-me todos os dias ao espelho me engano. Vim para casa com uma bela cor nas unhas, mas o cérebro a mil, cansado. O tempo. O raio do tempo a escavar a pele como se fossemos os socalcos de que Torga tão bem falava (ups, escrevia) nos seus poemas sobre o Douro. A merda do tempo. Cheguei e não me olhei ao espelho. Ainda não o fiz e já deambulo por casa há horas. Esquivo-me do espelho. Receio ver-me.

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