Fui à manicura e olhei
atentamente para a rapariga que me arranjava as unhas. Falava e a pronúncia
brasileira denunciou as origens. Perguntei-lhe há quanto tempo estava em Portugal
. Treze anos. E continuou. Treze anos com muito porque casei, enviuvei, si fudeu tudo, moça e,
imagine, vou voltar a casar, né. Olhei-a bem. Pensei que teria uns 49, 50 anos.
Rugas vincadas na pele, mais salientes entre a boca fazendo parêntesis no
sorriso. A dada altura perguntei-lhe pela idade. 42, disse. Olhei-a. Calei-me.
Eu tenho menos um. Não sei se estou velha como ela. Não sei se ao ver-me todos
os dias ao espelho me engano. Vim para casa com uma bela cor nas unhas, mas o cérebro
a mil, cansado. O tempo. O raio do tempo a escavar a pele como se fossemos os
socalcos de que Torga tão bem falava (ups, escrevia) nos seus poemas sobre o
Douro. A merda do tempo. Cheguei e não me olhei ao espelho. Ainda não o fiz e
já deambulo por casa há horas. Esquivo-me do espelho. Receio ver-me.
Escreves sempre tão bem. :)*
ResponderEliminarolha quem fala! :) obrigada
Eliminarbeijinhos