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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Eu


Se calhar, se disser que gosto de deitar a minha filha e ficar a beber um vinho, tinto de preferência enquanto escrevo no livro que estou a fazer, soa a pouco maternal, mas faço-o;

Se disser que muitas vezes em vez de escrever dou por mim a ler um livro com o meu copo de vinho e televisão desligada, soa a pouco maternal;

Se disser que muitas outras vezes fico na sala, com a minha musica de eleição que não foge muito do Antony, do Cohen, do Cave, do Scott Matthews e ultimamente dos The National, com a luz desligada (amo ficar só com as luzes da árvore de natal, mas só consigo nesta altura) e a pensar na vida também soa a pouco maternal;

Mas sempre que um destes serões é escolhido, interrompo a leitura, a escrita, os pensamentos de quando em vez só para a ir ver a dormir e dizer-lhe que a amo. Faço-o baixinho, quase num sussurro, para que ela não acorde. Depois volto à sala, ao meu vinho, às minhas leituras, às minhas escritas, aos meus pensamentos. Mas desenganem-se se pensam que desligo dela. Nunca o faço, nunca, mesmo que embrenhada na minha escrita, nas minhas leituras, nas minhas músicas, nunca me desligo dela, ali ao lado, no quarto a dormir. Se calhar isto já faz de mim um ser mais maternal.
 
fotografia by Mané Mesquita (www.ligthstudium)
 

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