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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

o meu foi mais ou menos assim


Ainda me lembro da mudança do milénio e da ansiedade de ver se acontecia alguma coisa. Olhei para a Austrália. Por lá nada aconteceu e descansei. Aqui também não iria acontecer nada. Fiquei em casa com os meus pais. Lá está, para o caso de irmos todos pelos ares, eu queria morrer ao pé deles. O meu irmão deu de fosques que o rapaz nunca foi dado a sentimentalismos baratos. Era-lhe indiferente se morrêssemos todos em cantos diferentes do globo. Esse sim, foi um fim de ano que me ficou na memória. Todos os restantes não reza a história: apenas os vivi sem grande entusiasmo. Como já disse, apenas gosto dos balanços que me obrigo a fazer. Erro. Há um outro que me marcou para além da passagem do ano 1999 para o 2000 que foi o de 2010 para 2011 porque foi a primeira passagem de ano com a minha filha. Ela tinha uns míseros dois meses e fomos passar a casa de uns amigos. A rapariga veio sempre com ganas de dormir porque passou a noite ferrada, no seu ovo, num canto da casa afastado do barulho. À meia-noite lembro-me de me afastar da confusão e de chegar ao pé dela e dar-lhe um beijo, dizer-lhe que a amava muito e que queria que ela um dia soubesse o quanto a sua presença na minha vida me fazia diferente, melhor, mais plena, mais mulher, mais feliz, dizer-lhe o quanto a magia de ser minha filha me enche de orgulho. Ela continuou a dormir, e eu só queria ficar ali, ao pé dela. Foi, sem dúvida, um excelente fim de ano. Ela mudou a perceção de tudo o que me rodeia, mesmo das coisas mais comezinhas. Aí os meus balanços também mudaram. Não dá para programar a vida sozinha, a pensar no que quero, no que desejo. Tenho de planear tudo com ela no pensamento. Gerir a nossa vida, a nossa relação e, acima de tudo, gerir o meu tempo para que os meus planos não me obriguem a ficar longe dela.

Fechando os olhos e inclinando a cabeça para trás posso resumir com toda a certeza que este foi um ano bom. Não foi tudo bom, nem nada que se pareça, mas ainda tenho os meus velhos comigo na vida, tenho a minha filha, não perdi ninguém de importante, tenho bons (maravilhosos) amigos, tenho uma bonita família, tenho trabalho, tenho um outro trabalho em mãos que me deixou feliz da vida, vou tendo poder de compra para fazer face às necessidades do dia a dia e ainda consigo extravasar de quando em vez. Foi um ano em que bebi grandes vinhos, em que descobri o sushi, em que me apaixonei um pouco mais pela terra onde vivo, que me reinventei na cozinha, que partilhei a casa com gente boa, que vi bons filmes e descobri musicas que me fizeram sonhar. Mostrei Londres à minha mais linda sobrinha e como é bom ver uma cidade pelos olhos de quem quer açambarcar o mundo com as pernas do alto dos seus 15 anos. É impedir-nos de envelhecer. Conheci Barcelona e dancei à moda dos catalães no Bairro da Graça pela noite dentro. Comi tapas até o meu fígado gritar por socorro. Contei mil historias à minha filha. Morri de medo quando ela foi com a escola para  a praia. Rimos muito as duas e cada vez somos mais compinchas uma da outra. Sozinha fui a muitos sítios sem sair do sofá de casa.

Dediquei-me aos sem-abrigo de Oeiras. Homens que me obrigaram a dar graças a Deus pela vida que tenho.

Foi um ano bom, sim, sem ser excelente. Um pouco como o vinho 100 hectares, que é bom, sim senhor, bebe-se e decora-se o nome para que um dia possamos a ele voltar, mas não é um Barca Velha.

Que 2014 seja igual ou que venha o tal Barca Velha que a malta agradece.
Para todos vocês que estão desse lado, uns que conheço, outros que não faço ideia quem são, que seja um excelente ano e que daqui a um ano nos encontremos aqui, neste cantinho, novamente.

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