Não tenho
duvida alguma que os carros têm sentimentos, que funcionam mediante os donos
que têm. O meu, que sempre foi um belo carro sem mácula de pecado, sentiu que
me preparava para o deixar. Bem, é pior, a coisa é muito pior, ele sentiu que
me preparava para trocá-lo por outro. O mais infame pecado amoroso. A traição.
E não se fez rogado, hoje resolveu deixar de funcionar, assim, simples, como se
alguém lhe tivesse retirado o coração, vulgo motor, e morreu. Na verdade, o seu
desamor é tanto que fê-lo no parque subterrâneo do Hospital Cuf Descobertas. Eu
percebi-o quando ele não quis dar nenhum sinal. E fez-me ficar 4 horas (quatro
horas) para chegar a casa entre reboques especiais para parques subterrâneos, táxis
e muita chuva e nevoeiro, o que fez tudo demorar o triplo do tempo. E ele, ali,
quieto, calado, amuado. Quando o vi a ir a reboque da pick-up fiquei triste.
Fiquei com o coração pequeno. Era a primeira vez que o via a ir dormir longe de
mim. Estou aqui a pensar em reatar a nossa relação… depende do tamanho do amuo
dele. Amanhã, alguém da oficina irá aumentar o meu desdém ou reascender a chama
da nossa relação. Veremos.
Agora
vou espetar-me no sofá e esquecer que esta tarde sacana existiu.
A vingança é um prato que se serve frio.
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