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sábado, 26 de abril de 2014

A importância dos limões


Fim-de-semana em Tomar. Fim-de-semana numa aldeia a sete quilómetros de Tomar. Sempre que para aqui venho faço a viagem a pensar, imaginem lá, em limões. Mais precisamente nos limões do titu (tio Artur na boca da minha filha). Pode parecer-vos ridículo ou, no limite, redutor, mas com os limões vem uma série de emoções e lembranças: a hortelã-pimenta da Teresa, a Maria a apanhar os limões, espremê-los com a ajuda de um garfo por falta do espremedor, o cheiro das flores do campo, o riso de quem tem as horas por contar, o céu ora pesado ora azul que quase ridiculariza o verde dos campos, as ovelhas que ouvimos perto, os cães, os galos, os sacanas dos galos que entram pelo quarto dentro bem cedo, as motas, velhas e feias, que pejam as aldeias, os rapazes nelas sem capacete a tentarem mostrar-se galãs para as meninas que, aos poucos, saem das casas, as tias, os tios, os bons dias dos que por nós passam mesmo sem sabermos o nome. E esta casa. Casa onde também se abre para os amigos, para aniversários, batizados, fim de ano e, brevemente, despedida de solteira. Mas falta-me qualquer coisa neste campo. Nunca percebi bem o que era e hoje, assim, de repente, enquanto apanhava limões olhei para o horizonte e percebi, percebi o que me falta. Falta-me os montes. Falta-me os sopés do Marão. Os socalcos, naquela vertigem sem fim. Os montes tão altos e verdes e castanhos que vão até ao céu. Falta-me esse embrulho. Se esta aldeia estivesse no douro, era perfeita. Assim, é quase perfeita. Vale-lhe os limões, que são os limões que me dão a melhor limonada de sempre.










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