Fim-de-semana
em Tomar. Fim-de-semana numa aldeia a sete quilómetros de Tomar. Sempre que
para aqui venho faço a viagem a pensar, imaginem lá, em limões. Mais precisamente
nos limões do titu (tio Artur na boca da minha filha). Pode parecer-vos
ridículo ou, no limite, redutor, mas com os limões vem uma série de emoções e
lembranças: a hortelã-pimenta da Teresa, a Maria a apanhar os limões,
espremê-los com a ajuda de um garfo por falta do espremedor, o cheiro das
flores do campo, o riso de quem tem as horas por contar, o céu ora pesado ora
azul que quase ridiculariza o verde dos campos, as ovelhas que ouvimos perto,
os cães, os galos, os sacanas dos galos que entram pelo quarto dentro bem cedo,
as motas, velhas e feias, que pejam as aldeias, os rapazes nelas sem capacete a
tentarem mostrar-se galãs para as meninas que, aos poucos, saem das casas, as
tias, os tios, os bons dias dos que por nós passam mesmo sem sabermos o nome. E
esta casa. Casa onde também se abre para os amigos, para aniversários,
batizados, fim de ano e, brevemente, despedida de solteira. Mas falta-me
qualquer coisa neste campo. Nunca percebi bem o que era e hoje, assim, de
repente, enquanto apanhava limões olhei para o horizonte e percebi, percebi o
que me falta. Falta-me os montes. Falta-me os sopés do Marão. Os socalcos, naquela
vertigem sem fim. Os montes tão altos e verdes e castanhos que vão até ao céu.
Falta-me esse embrulho. Se esta aldeia estivesse no douro, era perfeita. Assim,
é quase perfeita. Vale-lhe os limões, que são os limões que me dão a melhor
limonada de sempre.
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