Quando estava
com a minha filha no hospital, numa das noites em que por lá dormimos, dei por
mim a pensar que a única vez que tínhamos ficado as duas, sozinhas, assim, num
hospital, tinha sido quando ela nasceu. Como que um rasgão, veio-me de rompante
a memória do dia em que ficamos as duas, já sem visitas, no quarto e nas
promessas que, nessa noite, lhe fiz. Voltei atras. Agora era ela que estava
debilitada. Ali, naquela cama já de adultos, com o soro a correr-lhe nas veias,
e eu a olha-la e a tentar perceber como é que este amor pode caber num corpo. E
não cabe. Ele transborda para fora de mim, vai mais além. Pensei nas mães de
filhos com doenças incuráveis. Pensei nas mães que lidam com a dor diária de um
filho e pedi a Deus nunca me dar essa provação. Os hospitais deviam ser apenas
o sítio onde parimos e onde, nessas noites, se fazem promessas, e onde nos
ensinam aquilo que instintivamente já sabemos. Nada mais. Ou pouco mais. Mas a
verdade é que são lugares fundamentais. Sítios de cura. Lugares de promessas e
alegrias. Lugares de vida. Vida. Vida. Lugares imprescindíveis. Mas estar lá,
mesmo que em busca da vida, de saúde, custa. Ah se custa!
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