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terça-feira, 1 de abril de 2014

Uma batalha com sete anos


São apenas 8 cm. O comprimento do meu dedo indicador são 8cm.Quando me começou a doer, não liguei. Para quê dar importância a 8cm quando no total meço 1,74cm? E continuei a não ligar quando o médico da medicina de trabalho me mandou fazer RX. Continuei a não ligar quando recebi uma carta fechada do mesmo para ir ao Instituto de Reumatologia. E continuei a não ligar quando a médica me disse: tem artrite reumatoide. Sabia lá o que era isso! Depois parei. Parei de rir e de olhar para o meu dedo, já gordo de deformado, como não tendo importância. Deixei de ser naïf. Deixei de ser infantil no confronto com as minhas dores. Parei. Já ia de carro para casa e parei o carro e chorei como ainda hoje acho que não voltei a chorar. Era dia 1 de Abril de 2007 e soube que tinha uma doença incurável, limitativa e degenerativa. Não falo muito sobre ela. Tento não me abandonar à sacana, porque sinto que ela está constantemente à espreita de uma fraqueza minha. Está sempre ao virar da esquina. Tento desvalorizar quando não consigo apertar o soutien. Ou quando me custa lavar o cabelo. E quando falo dela, falo com algum desdém. Desdém de quem respeita mas não se entrega. Por causa dela tenho seguros mais caros. Por causa dela tenho uma dor constante e diária. Mas não lhe falo. Não a abordo. Não falamos. Vivemos no mesmo corpo, mas apartadas. Ela faz-me sofrer mas não lhe demonstro. Às vezes sinto que lhe ganho, outras ganha-me ela. E hoje, que faz 7 anos que sei que sou doente com artrite reumatoide sei que estou a ganhar este jogo intenso. E estou a ganhar, não porque tenha deixado de ter a doença, mas porque nunca ela conseguiu impedir-me de ser feliz. Nunca mesmo. E quanto aos 8cm de deformação, este ano, não suportando vê-lo feio e gordo na minha mão, coloquei um lindo anel, gigante, com uma pedra preta, que o embeleza.

17 comentários:

  1. Que lição de vida. Obrigada! Um grande beijinho!

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  2. Admiro-te muito. És quem eu gostaria de ser um dia. Gostava de poder ver as coisas com outra visão, de não me entregar tanto, de dar à doença um outro rosto, um mais feliz e pacífico. Às vezes é difícil, que a sacana é chata e embirrenta. Mas também não lhe dou tréguas, não a deixo respirar nem crescer dentro de mim. É isso que mais me une a ti e, só por isso, já lhe agradeço.

    Um beijo enorme, lutadora!*

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    1. Tu também és uma grande lutadora. Se não nos entregarmos às doenças, mesmo que as tenhamos, já as vencemos um pouco. E ficar em casa, doente, não é não lutar. É ganhar resistencia para continuarmos a viver. Admiro-te miuda. muito, muito e gosto de ti, mesmo que nunca te tenha abraçado.

      um enorme beijo

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  3. Carlinha... é "apenas" um corpo físico. Esse, envelhece, adoece, é frágil. Mas a espiritualidade que nele habita, se quiseres é eterna e será mais forte de dia para e dia. E sabes de uma coisa? Não só o espírito se fortalece como até no corpo registas surpresas.

    Beijos mil, já sabes que te adoro. Com ou sem dedo gordo, és linda e não conseguires apertar o soutien (apesar da chatice) até é algo que transborda sensualidade. :)

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    1. ADOROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOo

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  4. Querida Frida, não posso deixar de te dizer (Pq Gosto muito do que dás a conhecer :-)) que tenho alguém próximo que melhorou/estagnou a doença com uma alteração drástica na alimentação e medicação homeopática. Nada de açucar, leite e derivados,alimentos/gorduras processados e consumo de muitos legumes e alguma fruta...espero que ajude...grande beijinho

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  5. Também faz este abril sete anos que descobri que sou diabética e que deixei, quase de repente, a insulina, os glicómetros e tudo o resto inerente à doença, entrar na minha vida. Apesar de ser uma doença silenciosa e quase sempre assintomática (sobretudo se tivermos os níveis de glicérica mais ou menos controlados), sei que é um passaporte de entrada para outras doenças, focos inflamatórios e infeções satélite, tornando-nos mais propensos a tudo isso. É mesmo como diz: "habitamos as duas no mesmo corpo, mas vivemos apartadas". Talvez não tenha ainda a sua segurança para falar da minha doença, sei que muitas vezes vivo em alguma "negação", pois faço por esquecer-me dela e o bem-estar diário puxa-me para isso, mas sei que está cá, sempre à espreita como diz e sei que um dia, vou inscreve-la de tal maneira na minha vida que já viverei sem esta sensação medrosa de a enfrentar. Hoje, o seu post ajudou-me a fazer isso mais um bocadinho e por isso lhe agradeço. Sigo o seu blog com assiduidade, mesmo que não comente sempre. Um beijinho muito grande e, TUDO DE BOM!!!! P.S. Se quiser visite-me em agridoceedoce@blogspot.pt

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    1. Querida Paula (permita-me que fale assim),
      pois, eu entendo em absoluto o que diz. Um dia terá a mesma segurança. Nem sei como é que ela vem, creio que um dia apareçe e pronto, aqui fica. Mas olhe que mesmo segura, há dias (Muitos) de inseguranças. É assim. Não há volta a dar. Mas tenho a certeza que cada dia em que somos felizes, as vencemos com nivel:)

      Vou visitar o seu cantinho. Obrigada por ter visitado o meu.

      beijinhos

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  6. Então eu acho que a venço ( à doença ) sim, todos os dias um bocadinho porque sou muito feliz!!! Obrigada pelas suas palavras e sim, gostaria muito que me "visitasse" e quem sabe, podermos ficar "seguidoras" uma da outra... Beijinhos!!!

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  7. Tambem eu, faz 7 anos que descobri que tinha artrite reumatoide. Doi muito, gostava de ter a sua coragem... só me troxe uma coisa boa: ao pesquisar no google quando mudei a medicação para salazopirina descobri o seu blogue e até hoje eu sigo pois ajuda-me muito, dá-me esperança.
    Admiro-a muito
    Muita força e continue assim ...

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    1. Que curioso. Como poderia imaginar que a Salazopirina me iria trazer uma leitora!
      Tenho a certeza que a aí também reside muita coragem. Pode é dar-se o caso de a minha artrite reumatoide ser mais branda e querida que a sua. Esperemos que a sua abrande.
      obrigada pelas suas palavras que simplesmente amei. Mantenha-se por aqui e vá dando noticias
      beijinhos

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  8. um dia também tive uma dessas crises de choro. numa tarde quente de julho, em miraflores, no laboratório do dr joaquim chaves. chorei de raiva pela companhia indesejada e de alívio, por conhecer finalmente a "culpada" pela dor instalada em todos os milímetros do meu corpo. depois a malta acostuma-se e vai de caminho, com ela, pra todo o lado mas aqui entre nós confesso, que não deixo de acreditar que um dia destes ainda a ponho porta fora.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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