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terça-feira, 6 de maio de 2014

das amizades


Se há assunto ou tema com o qual me tenho debatido de forma constante e até aflitiva, é o da amizade. É o campo onde tenho tido mais dificuldades ao longo da minha vida. Percebi que tenho um enorme (gigante) defeito: gostava que fossem para comigo como sou para com outrem. E isto não existe. Não só as pessoas não se movem no exato compasso em que me movo, nem as minhas guerras são as guerras dessas pessoas. E eu, por vezes, achava que sim. Saber que não tenho de herdar as guerras dos amigos e aceitar que eles não herdem as minhas, foi a busca que tive de fazer. E que fiz. Mas sem antes sofrer horrores interiormente.

Não sei se há amizade à prova de tudo e mais um par de botas. Acho que para se manter uma amizade temos, em primeiro de tudo, saber engolir sapos. Elefantes e até bisontes. Não deixa de ser uma prova de amor. Da minha parte é a maior prova porque não sou boa a não dizer o que sinto. Depois devemos aceitar que aquela pessoa não seja totalmente nua connosco. Não digo sincera, digo mesmo ‘nua’. Só a apensar é que dizemos tudo. No resto há um filtro. E quando sentimos que nos escondem algo, temos de ter a capacidade de perceber que aquela pessoa não quer falar. Foi outra guerra interior que tive de travar. Hoje sei quem esconde, mas já não ligo. Sigo em frente. Basta que saibam que estou cá para quando (e caso algum dia o queiram) quiserem fazê-lo.

A amizade é um campo difícil de cultivar. Às vezes não chega só gostar. Ou não chega que só gostem de mim. Já perdi amigas por causa dos namorados delas; dos meus; de segredos que não se partilharam e criaram mossa; de segredos partilhados fora da nossa concha; por causa da ‘não defesa’ em público da nossa pessoa (amigo é aquele que critica em particular e defende em publico); por causa de outras amizades incompatíveis comigo. Na verdade, não é importante porque se perde alguém. Porque se se é verdadeiramente amigo, não pode haver perdas. Está-se, mesmo em momentos difíceis, mesmo com os bisontes a passarem na garganta, mesmo que não se diga tudo, mesmo, mesmo, mesmo… e acima de tudo não temos de ter a ideia que só nos é que devemos cultivar, a outra pessoa também tem de nos cultivar.

Deixei para trás quem não me cultivou. Deixarei sempre quem já não me quiser, porque isto da amizade é como o amor: devem ser ambos a quererem. Mas que dói perante um fim iminente, isso dói. Mas se dói é porque valeu.

8 comentários:

  1. Eu sei que sou um pouco para o lamechas.... mas tu tens o dom de me fazer chorar. ...

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    1. :) tu és tão querida! Gosto de ti, miuda, gosto mesmo. Acima de tudo gosto dessa energia boa que tens. Obrigada

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  2. Sinto exactamente como tu...sem mudar uma virgula.

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  3. :) E sabes que mais? É por tudo isto que sei que seríamos amigas-para-sempre se estivéssemos mais perto uma da outra. Gosto muito de ti!

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  4. A amizade é tanto disso. Também eu me debato por vezes.

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