Ontem fui a uma reunião de pais
na escola onde a minha filha anda. Ter, numa sala, cerca de três dezenas de
pais nunca é coisa boa. Há quem ache que os putos têm de começar a ler aos 4 e
quem ache que aos cinco já têm de fazer frases noutra língua de preferência o
inglês, mas se puder ser inglês e espanhol, melhor; há quem se encanite com o
tipo de manual que as educadoras vão escolher e outros que acham que o
importante é usarem batas. Na verdade, há para todos os gostos.
Agora os pais têm um espetro de
idades que vão dos vintes aos quarentas. Dei por mim a pensar onde é que aquela
malta teria passado a sua infância e adolescência. Será que algum dia fumaram
algum charro? Será que andaram em campanhas pela noite dentro quando nem se
sabe muito bem que ideologia se pregava? Será que namoraram no carro, no mato e
em casa mesmo nas barbas dos pais? Será que lavaram sempre os dentes no fim de
cada refeição? Será que nunca comeram excessos de doces? E nunca se sentiram
livres para usarem roupa velha e rasgada? Será que algum dia faltaram a uma
aula só porque sim? Será que tiveram a sorte de ter uma professora que ensinava
com igual gana a matemática e a forma de um homem conquistar uma mulher? Não
sei o passado daquela malta, sei que o que a maioria apregoa para os seus miúdos
é uma vida perfeitamente higienizada, sem margem para a loucura, num caminho
perfeitamente calculado. Sinistro, portanto. Sei que os putos têm o condão de
refazer barreiras impostas, derrubarem ideias familiares, questionarem o mundo.
E isso é bom, mas não deixo de pensar que hoje os pais são aqueles que coartam
mais facilmente a liberdade dos seus filhos. É por amor. Sei que sim. Mas umas calças
rasgadas e sujas no fim do dia só faz bem. UM quarto com posters a aniquilar a
pintura, devia estar sempre no curriculum de cada um. E se em vez de atividades
extracurriculares com regras os soltassem ao vento num jardim ou praia? A minha preocupação é que a miúda tenha tempo para brincar mesmo quando eu estou a trabalhar; muitos pais querem é que os filhos aprendam das 9h às 18h, sem parar. Se a escola acaba às 15h30, toca a mete-los no inglês, na musica, no espanhol, no judo. Vamos encher as horas com coisas, muitas coisas. Eu só quero que após as aulas a miúda descanse e brinque. Será que não sabem que se aprende muito quando se brinca?
Ui, como eu a compreendo! Há pais que se preocupam com coisas sem jeito abolutamente nenhum! Os meus filhos têm as actividades extra que nós e eles entedemos ser as suficientes, mas em que fiquem alguns dias de folga pelo meio, pelo simples prazer de chegar a casa mais cedo e não fazer nada, ou brincar, ou até ver TV. Não precisam de ser mais espertos que os outros, só me interessa que sejam mais felizes. Beijinhos
ResponderEliminarobrigada. Beijinhos
EliminarOlha que partilha tão boa!
ResponderEliminarEu dou por mim a pensar o mesmo, e pior... quando chegam à adolescência e querem que os filhos se mantenham uns cordeirinhos no rebanho sem espaço para a criatividade e para a individualidade, sem poderem "fazer" fora do penico... pergunto-me, onde é que estes Pais estiveram quando tinham 13-17 anos??? Haja paciência :-)
Obrigada pela partilha, a brincar aprendemos muito e a disparatar também! Viva o disparate e o "dolce fare niente"!
Abraço, Alexandra
Obrigada pelo tão simpático comentário. Beijinhos
EliminarEstou tão de acordo! A minha filha mais nova que começou agora o 2º e no ano passado, na primeira reunião de pais que tivemos, falou-se logo sobre os trabalhos de casa e sobre qual a periodicidade dos mesmos e fui cilindrada pelos restantes pais quando expressei a minha opinião sobre os mesmos. Um criança de 6 anos, que começa uma nova rotina em que das 9h00 às 17h30, está sentada em sala de aula, deveria ter tempo para brincar, acho eu. Mas ninguém concordou comigo. A maioria dos pais acha que eles têm que aprender é de pequeninos, que se não começam agora a trabalhar a serio, depois nunca encontrarão ritmo de trabalho, etc, etc. Ficou acordado, 2º, 4º e sexta os dias dos trabalhos de casa e a mim dá-me dó, ver estas crianças, em casa, no horário que deveriam ter para brincar, cheias de sono a maior parte das vezes, a sentirem-se desmotivadas dia a dia, letra a letra que vão escrevendo.
ResponderEliminarBrincar e fazer alguns disparates devia fazer parte da agenda de ser criança!
Obrigada pelo post.
Alexandra
Gostei tanto do teu post!! Ir a essas reuniões é, muitas vezes, um exercício de humildade, tais são as "ganas de os acordar"'para a realidade!! Haja paciência!!
ResponderEliminarVou partilhar... Beijo!
Se não fosse pelo mero prazer de perceber que as nossas crianças necessitam de brincar; ainda assim poderiamos apontar os estudos mais recentes que comprovam a necessidade fulcral do recreio, da brincadeira , do tempo livre de ocupações especificas para o desenvolvimento saudável e até para assimilar a informação que recebem na sala de aula.Sempre achei excessiva as doses de TPC; os Pais não querem passar as noites a tratar dos TPC com os filhos, quanto muito querem aproveitar para estar com eles, para conversar, brincar, acarinhar.Não formatem os miudos, queremos gente sonhadora e criativa, não um bando de automatos sem capacidade de reacção perante o invulgar, ou o que saia de uma rotina ou pressuposto considerado "normal".
ResponderEliminar1000% de acordo...
ResponderEliminarComo estou de acordo...... Costumo dizer que as crianças agora têm tempo para tudo menos para serem aquilo que são: Crianças.
ResponderEliminarHá uns anos atrás, sendo eu professora do 1º ciclo, na última reunião de pais (no final do ano letivo) os pais perguntaram-me pelos trabalhos para férias. a minha resposta foi a seguinte: Vocês gostam de levar trabalho dos vossos empregos para fazerem nas férias? Como me responderam que não eu disse-lhes: a escola é o emprego dos vossos filhos e por isso eles também não gostam de levar trabalhos para fazerem nas férias........ e eles calaram-se.
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EliminarAcho que já vi esse grupo de pais em qualquer lado... ;)
ResponderEliminaros pais perfeitos se calhar sao os q passam os dias no facebook ou nos blogs cheios de conversa feita lolol
ResponderEliminarà hora q publicou este post os seus filhos estavam a lanchar sozinhos, no jardim sem vigilancia ou simplesmente enterrados na tv ?? lolol
só tretas
Olá anónimo, para que não fique toda a vida inculto/a, saiba que os post agendam-se. E não será um anónimo, um cobarde, leia-se, a dar sermões sobre o que é ser bom pai/mãe. Sabe que há tratamento para a infelicidade? Procure-a.
EliminarA propósito do excesso de trabalhos de casa, deixo link
ResponderEliminarhttps://www.change.org/p/ministerio-de-educaci%C3%B3n-por-la-racionalizaci%C3%B3n-de-los-deberes-en-el-sistema-educativo-espa%C3%B1ol
A propósito do excesso de TPC
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=sCsTirDBv7Y
muito bom. Muito bom mesmo. bom e dramático. obrigada. questiono, o que podem os pais de hoje fazerem perante este estado de situações?
Eliminarbeijinhos
E eu que pensava que era uma extraterrestre...afinal ainda existe pessoas como eu...soube bem lêr este pequeno comentário com tanto para dizer...obrigado
ResponderEliminarClaro que concordo com tudo isto. Mas sobretudo com aquele momento em que eles faltam a uma aula só porque sim. E credo, como fui criticada quando defendi isso nas reuniões de 5¤ e 6¤ ano. Ora querem lá ver que aquela mãe defende que a escola deve dar liberdade de portão? Defendo sim senhora. E pela lógica, dou o direito de se baldar à minha filha. E que ela saberá que eu não justificarei a falta à "balda", mas que considero um sinal de maturidade ser informada por ela. Devo dizer que no 5¤ e 6¤ não aconteceu. Aconteceu no 9¤ na semana antes de uma reunião. A DT pediu-me a justificação e eu disse que não dava. Que falávamos no fim da reunião. Expliquei-lhe. A falta, foi até agora a única injustificada. Mas repito, fui informada antes da falta e não justifiquei.
ResponderEliminarMuitos pais ñ entendem que as crianças para aprender tem de errar, fazer “asneiras” (com n/ vigilância). A sociedade criou crianças imaginárias como ídolos, com parâmetros e tem de seguir todas esses parâmetros se ñ são, em parte, “excluídas”, já ñ podem saltar á corda, jogar ao berlinde, subir a uma árvore num parque, muitos olham de lado. Tento que os meus filhos se divirtam dentro dos limites, nos dias que ñ tem atividades extra.
ResponderEliminarMuito bom este blogue, parabéns.
então agora tentem avaliar como se sente o professor que tem que enfrentar e gerir as opiniões e teorias pedagógicas de 30 pais, cada um convencido que ele é que sabe como e o que fazer, e que o docente do seu rebento é uma espécie de palerma incompetente que nunca viu uma criança à frente (muito menos uma tão especial como a sua).
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