O Trovador

Há restaurantes e restaurantes e depois há ‘O Trovador’ em Alvide, Cascais, que é mais que um restaurante. Isto se nos cingirmos à letra e dissermos que restaurante é um sítio onde vamos comer. No O Trovador também vamos comer e se vamos, mas o que se passa naquele espaço está para lá da simples degustação ou enchimento do bucho. Aquilo é bom que se farta. O senhor Manuel, ou Manel, como ele gosta que lhe chamem, cozinha deliciosamente. O homem não tem pinta alguma. É Barrigudo, de boné na cabeça e o ‘foda-se’ sai-lhe da boca amiúde. Mas aquelas mãozinhas são verdadeiras fadinhas no que à comida diz respeito. Se pedirem uma vaquinha de carne, preparem-se para saírem de lá de gatas. É entrecosto, é pato e mais um pedaço que não descortinei recheado e que nos manda para o paraíso em segundo e meio. O arroz, bem, salivo só de recordar o arroz pejado de coentros e alho-francês muito pequenino. Depois ainda vem acompanhado com umas migas que fazer levantar um morto quanto mais um vivo e rematamos com uma bela salada. E pasmem-se, caros leitores, até o vinho da casa é bom. Aquilo tudo demora tempo a digerir. Quer-se calma e descontracção enquanto os sabores tomam conta dos sentidos. E depois há todo um espectáculo imaterial que se passa naquele espaço. É fácil ouvirmos o Manel dizer: Foda-se, mas quem é que quer mais pato? Isto enquanto ele se passeia pelas mesas, simpaticamente, a perguntar se estão a gostar ao mesmo tempo que a sua proeminente barriga se tenta desviar das esquinas.

Há uns tempos foi lá a ASAE e logo, logo o Manel disse alto e bom som:

 - Esses c******* que se F*****

E os senhores, que por acaso eram umas senhoras, sorriram timidamente e fizeram o seu trabalho num ápice, saindo antes que de o Ti Manel se passasse de vez.

Sugiro, vivamente, este restaurante. Eu própria hei-de lá voltar assim que for oportuno, pela comida, pelo ti manel, pelo ambiente porque sei que sairei de lá satisfeita de alma e estômago.