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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eu pecadora me confesso.

Quando pensei, seriamente, em ter um filho, sabia que seria um caminho complicado pelos mais diversos motivos que não interessam aqui explicar. Mas a decisão foi tomada, falada com quem de direito e fui em frente. Este ‘ir em frente’ demonstra força, mas não destituída de receio. Porque ele existiu. A minha filha foi concebida de forma artificial. Foi através do método I.C.S.I.. Escolhi o melhor, o ‘pai do bebé proveta’ português -o Prof. Pereira Coelho que foi de um profissionalismo, atenção, cuidado acima do esperado. O sucesso alcançado valeu a pena assim que a senti pela primeira vez. Até então parecia algo meio inexistente. E quando nasceu, senti-me rebentar pelas entranhas. Queria que me rasgassem o peito e nele vissem o tanto que já amava aquela criança. Há neste caminho em busca de minha filha, muita perseverança, cuidado, atenção, desgaste, sono, dinheiro gasto (muito), mas acima de tudo, muito, muito amor. Faz hoje meio ano que fui mãe e tem sido de uma gratificação sem limites. Isto tudo para dizer que ontem, quando o padre que presidiu ao baptizado a que fui me disse:
 - Parabéns pela encantadora filha que tem!
Eu só consegui responder-lhe:
 - Pena que ela tenha sido feita artificialmente e isso constitui um dos novos pecados capitais da Igreja católica!
A palavra ‘pena’ que saiu da minha boca não era sentida, mas dita de forma irónica. Eu, católica praticante, senti um murro no estômago quando o Santo Papa deu conhecimento dos novos pecados capitais, e entre o enriquecimento excessivo, o agravamento da injustiça social temos a inseminação artificial. Ou seja, um casal que não consiga ter um filho de forma dita ‘normal’, não pode busca-lo utilizando as técnicas que a ciência tem em cima da mesa. Não pode se for Católica. Não pode se não quiser pecar. Isto porque um casal que busque um filho para amar, e é algo tão simples quanto isto, está a buscar o pecado. De cada vez que dei injecções a mim mesma durante dias e dias supostamente estava a namorar com o diabo; de cada vez que tive de ficar de cama para conseguir minha filha, estava a requerer o pecado; de cada vez que rezei para que desse certo o método (o único que podia resultar comigo) afinal apelava envolta da ignorância de um erro. Tenho de rir disto tudo. Apenas tenho de rir porque o Deus que eu amo não pode, de certeza, ficar indiferente ao amor que diariamente sente de mim para a minha filha e da minha filha para mim.
Trazer um filho a este mundo para ser feliz não pode, nunca, ser pecado, caro Santo Padre, não pode. Pecado poderá ser, no limite, essa ideia retrógrada e sem qualquer sentido pratico que preconizam.
Ontem estive para escrever um post sobre o dia da mãe. Preferi guardar para escrever hoje um sobre a busca de uma mãe pela sua filha. Eu e ela. Nós. E se tivesse de o fazer de novo, fazia uma e outra e outra e outra vez.

2 comentários:

  1. É com enorme prazer que leio este blog e o que foi escrito agora foi do melhor que já li aqui. Não posso estar mais de acordo. Não tenho filhos mas mesmo assim vou opinar. Uma criança desejada e ainda por cima pela qual foi preciso lutar não pode nunca ser um pecado. Acho lindo o amor que vos une, como disse não tenho filhos mas tenho mãe e entre nós existe o mesmo tipo de amor, sei do que falas. Parabéns pela tua filha e pela mulher que demonstras ser.

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  2. obrigada. Muito obrigada. Sei que me lê e isso deixa-me feliz. Se escrevesse para ninguém me ler, escrevia um diário e metia-o na gaveta. Obrigada uma vez mais.

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