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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Italo Calvino . amores difíceis

O nome do livro já seria o suficiente para o comprar. Tentaria achar que era um sinal. Mas saber que se tratava de contos (minha preferência sobre todas as outras formas de escrita) cimentou a vontade. Comprei. Levei para casa e comecei a ler. Depois há como que uma metamorfose no leitor quando conseguimos espetar a cabeça nas páginas. Porque a lentidão com que a história é narrada, embala-nos mas sem criar desinteresse. Estamos agarrados e nem sabemos. Queremos chegar ao fim daquele compasso que parece não chegar mas que nos impede de desistir.
 O primeiro conto de um impensável encontro sexual entre uma viúva e um soldado é a prova do que aqui escrevo. É um desatar de dúvidas, de ir e não ir. Um comboio, um soldado, uma viúva sem parecer ser uma mulher interessante, apenas uma viúva. Passageiros e uma vontade súbita de desafiar a normalidade por parte do soldado. E queremos que ele consiga. E queremos que ela consinta. E no entanto, não há ali nada de profundamente sensual. É só um lado físico que contrasta com uma frieza extrema da viúva que ao mesmo tempo se deixa ir. É um abandonar de um corpo demasiado tapado mas que ainda está vivo. Não conseguimos ler sem sorrir. Sem tomar partido.
De seguida vem a história de um bandido que se refugia numa casa de uma puta que dorme com o marido. É preciso dizer mais?
Este é um livro que espero reler daqui a uns tempos. E reler um livro é o maior elogio que posso dar a uma qualquer publicação.

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