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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fumar charutos


Comecei a fumar charutos há relativamente pouco tempo. Digo relativamente porque o tempo tem tido significados distintos de ano para ano. Por vezes concilio-me com ele, noutras tento desprezá-lo e ele, revoltoso, envelhece-me. Como dizia, comecei a fumar charutos há relativamente pouco tempo. Vai para uma década. Foi ontem. Aprendi porque queria e gostava e quis aprender. É excessivo quando digo que os fumo, porque pensarão que o faço amiúde. Mentira. Podem passar meses sem fumar um  e posso fumar vários num dia. São os momentos que o requerem e não eu própria. A normalidade não os exige. Por isso, por vezes meto-me na noite silenciosa, na cadeira da minha varanda e afundo-me juntamente com um bom charuto. O fumo, denso, vai subindo e leva-me os pensamentos. Fico ali entregue àquele prazer sem vergonha. Há qualquer coisa de sexual quando o faço. E que nada tem a ver com o outro. Só comigo. Comigo e meus pensamentos e o charuto. É até um ato mais isolado, do que social. Não me apetece tanto quando estou acompanhada. Há no meu ato de fumar o meu passado e o sonho do meu futuro.
Por isso, agora, gostava de ir para o meio de nenhures e fumar um bom charuto que me cosesse as feridas da alma.

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