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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Condenada


O livro lê-se num ápice. Não que se trate de um texto soberbamente escrito, nada disso, o que nos leva em braços é a história, verdadeira e que no entanto parece inverosímil, de uma rapariga condenada a prisão perpetua por matar o seu pai. Pai este que a violava desde os 8 anos (ela matou-o tinha 18). Fê-lo quando viu o seu pai a violar a sua irmã. O drama poderá não ser novo, o que nos emudece é que ela oscila entre a raiva de um pai que a viola, e um amor profundo de um pai que por vezes é um pai amoroso. Poderíamos pensar que bastava um único acto de sexo cometido pelo pai para matar qualquer amor paternal que pudesse sentir, mas não, uma criança que não sabe se aquilo é normal, não sabe se todas as famílias o fazem, que se sente esmagada perante a dor que a dilacera, quando o pai cuida dela, ela ama-o. O livro tem qualquer coisa de incredulidade. O dia em que o mata nem sequer tinha pensado em fazê-lo. Diz ela. Para mim é indiferente se foi premeditado ou não. Para a justiça faz toda a diferença. Como pode uma criança não pensar matar aquele que se serve do seu corpo e alma de cada vez que ela é escrava sexual? Como? O livro não é uma bíblia de bem escrever, mas faz-nos ver que afinal, e apesar de tudo, há quem morra um pouco a cada dia que passa e que crescer não é mais do que um desfalecer dia-a-dia.

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