Como já devem ter percebido, faço entrevistas. E tenho a
mania de andar sempre com um bloco atrás. É fundamental ter à mão de semear um
bloco e uma caneta para, durante uma entrevista, colocar no papel aquilo que,
no momento, acho oportuno para quando estiver a editar. Por exemplo, se a
pessoa em causa tem um tique, ou ouve determinada musica, ou tem um espaço de
trabalho cheio de memórias pessoais… Hoje fui fazer uma entrevista e o bloco
que meti na mala foi ‘Os dias para sempre’ do valter hugo mãe que a minha
queria E. me deu há uns tempos. E estava muito bem lançada na entrevista, no
taco a taco pergunta-resposta quando, ao virar de página, vejo escrito a
seguinte frase do valter hugo mãe «já não te aguardo. Adio-me». E pronto,
perdi-me. Ao fundo ouvia a minha entrevistada a falar e eu pensava ‘Já não te
aguardo. Adio-me’. E a entrevistada falava, falava, falava e falava e eu
pensava ‘adio-me, sim, eu adio-me’. E foi quando o silêncio se apoderou da sala
que acordei e pedindo desculpas tentei recomeçar aquilo que nunca deveria ter
sido interrompido. E é difícil retomar uma conversa em que a dinâmica foi
suspensa. Difícil. Saí da entrevista danada comigo mesma, mas ainda agora penso
o quanto de mim adio de dia para dia.
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