A ideia era sentar-me onde estou sentada e falar-vos da boa
sensação que tive quando ouvi, na madrugada de sábado, chover. Adoro as
primeiras chuvas e tenho para mim que desenvolvi uma pequena paixão pela
estação do Outono. Mas o facto de ter utilizado a hora de almoço a andar de
bicicleta no ginásio, levou-me a abordar este assunto que, no momento, me
obriga a uma maior reflexão do que a chuva. Ora bem, vocês sabiam que as
bicicletas de ginásio, aquelas que não saem do sítio, têm uma televisão
incorporada? As coisas que inventam sem terem noção como esses avanços em nada
nos ajudam. Hoje sentei o cú naqueles assentos horríveis (se querem evoluir,
por acaso acho que deviam de começar pelos assentos das bicicletas) e olhei
para o ecrã. Botão para a frente, botão para trás e lá me meti a subir e descer
uma montanhazinha durante 30 minutos. Ainda fresca carreguei onde dizia TV e
pumba, aparece-me assim pela frente a Oprah. Por um lado funciona, porque
olhando para o corpo dela dá-nos ganas de pedalar para nunca chegarmos àquele
ponto, mas o facto de os programas dela darem na SIC Mulher não é à toa, é
porque nós, as mulheres, gostamos mesmo das entrevistas dela, da forma como
fala, como desenvolve empatia com os que a estão a ver e a dada altura, estava
eu absorta naquilo que ela dizia e apareceu-lhe na testa, ou seja, no ecrã da
bike RPM, RPM, RPM. Eu não gosto da Oprah com RPM na testa, toca a pedalar
mais e aquilo lá desaparecia e vinha a minha Oprahzinha com todo o seu
esplendor, voltar a relaxar e mais uma vez RPM, RPM, RRRPPPMMMM agora na boca. Toca a
colocar força nas canetas para desparecer o raio das letras. Depois queria saber como ficou a história das
cantoras mãe e filha que se odeiam mas que têm de atuar juntas e aparece a
desgraça das minhas calorias perdidas a piscar , eram tão poucas que voltei à
carga e mais uma entrevista e aparecia o tempo que me restava, ou seja, aquilo
não nos permite fazer o exercício em condições, concentradas e focadas. Não
permite mesmo. Ao meu lado a E. corria na passadeira enquanto via o telejornal.
Estava numa bolina louca e ficou estupefacta quando viu a percentagem de
pessoas que foram detidas em comparação com o ano passado e comentou comigo
entre uma baforada e outra. Hoje vai-se para o ginásio e tudo é feito para que
pensemos que não estamos lá. E eu penso: se aquilo fosse um sítio bom para se
estar, não tinham de disfarçar, certo? A E. diz que não é assim, que um dia
vamos sentir necessidade de ir correr, ou andar de bicicleta, ou malhar a sério
para que fiquemos bem-dispostas, eu confesso que fico mais sorridente quando
não vou, mas tenho esperança no futuro. É tudo um processo de aprendizagem, olhem, por exemplo, numa semana já aprendi aquilo que ninguém nos
ensina: nunca ir para o ginásio correr ou fazer uma aula de fio dental. Não é
comodo, não é prático e pode causar mais desconforto do que aquele que já
sentimos para estar a mexer músculos que nem sabíamos que tínhamos. Quem é
amiga, quem é?
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