Páginas

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sh’Bam ou como morrer a dançar


Deu-me para começar a fazer ginástica. Isto dito assim até parece que é uma coisinha boa e fofa, mas o que esta minha decisão está a conseguir é que eu me mate aos poucos, com bastante sofrimento, mas a rir, sempre a rir. Tudo começa por uma decisão médica: ah e tal tem de se por a mexer num ginásio senão um dia destes não sai da cama. E eu, embora goste da caminha, achei por bem manter-me na posição ereta por mais uns anos toca a chatear a E. e bora lá matricularmo-nos num ginásio, que isto com público é mais fácil. Primeira aula bora lá fazer tapete e bicicleta. Deu-me para, na bicicleta, fazer um percurso montanhoso. Lá – no ecrã da bicicleta - dizia para principiantes, mas a dada altura achei que estava a subir os Pirenéus. Mas cheguei ao fim, cansada, encharcada em suor e vi que tinha perdido 122 calorias. Claro que quando depois desse esfalfamento todo fui comer um iogurte grego com quase o dobro das calorias, quase morri e decidi fazer outra coisa numa próxima vez. Mas tudo bem, vamos lá em frente que aqui a moça aguenta. Eis que os olhos da E deram com aulas de Sh’Bam. Perguntamos o que era e lá nos dizem que é uma aula animada, de dança misturada com exercícios de aeróbica, fofinhos, com grande dinâmica e que ‘as meninas adoram’. Sim senhor, vamos lá dançar. E pronto, eis que ia morrendo ao som do I Will Survive da Gloria Gaynor (uma ironia da vida). Para já, o grande problema foi eu encarar a aula como se eu fosse protagonista da Fame (lembram-se?) e que iria saltar, abanar a anca, os olhos, as mamas, fazer flexões, loopings sem me cansar. Achei que Iria conseguir ser sensual enquanto a professora gritava: ‘ABANAR AS ANCAS! TOCA A ABANAR OS OMBROS! Mais. MAAAAAIIIISSSSSSSSS Mais meninas!’. E nós lá tentávamos mais e mais e aquilo até se fazia melhor se as mamas tivessem outro tamanho. Olhem, por exemplo o tamanho da professora, que eram duas borbulhas. Quem, como eu, tem protuberâncias que podem ter vida própria, pode ter dificuldades em domesticar a coisa. Quando descemos elas ganham balanço e chegam a baixo com ímpeto e quando subimos ainda vão a descer. Há uma descoordenação que a dada altura comecei a ter flashbacks. Vi a minha vida desde que nasci, em camara lenta e quando me senti prestes a cair, eis que a doida varrida da professora grita virada para mim: ‘Aqui ninguém desiste!’ E a minha vontade foi perguntar: ‘e já alguém morreu?’ Mas ela, percebendo da coisa e sendo mestre na arte de prolongar o sofrimento, coloca a música Footloose e Deus e o mundo sabem que eu nunca resisto a esta música. Entre sofrimento, entre a vida e a morte, dancei-a como se fosse morrer no fim. E voila, não morri, fiquei em mau estado mental porque dois dias depois meti-me a fazer Bodycombat com um serial killer depilado. Resultado? Hoje tive de pedir ajuda para colocar desodorizante, meus braços só levantam 1/3 do que seria normal. Talvez um dia destes o sofrimento se transforme em pura adrenalina, até lá resta-me o riso que me ataca de cada vez que olho para o espelho da aula e vejo aquela aluna vermelha de cabelo à Tina Turner a fazer figuras tristes e nem percebo que ela sou eu.

2 comentários:

  1. Oh pá! Não aguento mais a rir! Juro! "protuberâncias que podem ter vida própria" é do melhor que já li! Ahhhh abençoada sejas que me fazes rir! Beijos

    ResponderEliminar