Deu-me para começar a fazer
ginástica. Isto dito assim até parece que é uma coisinha boa e fofa, mas o que
esta minha decisão está a conseguir é que eu me mate aos poucos, com bastante
sofrimento, mas a rir, sempre a rir. Tudo começa por uma decisão médica: ah e
tal tem de se por a mexer num ginásio senão um dia destes não sai da cama. E
eu, embora goste da caminha, achei por bem manter-me na posição ereta por mais
uns anos toca a chatear a E. e bora lá matricularmo-nos num ginásio, que isto
com público é mais fácil. Primeira aula bora lá fazer tapete e bicicleta.
Deu-me para, na bicicleta, fazer um percurso montanhoso. Lá – no ecrã da
bicicleta - dizia para principiantes, mas a dada altura achei que estava a
subir os Pirenéus. Mas cheguei ao fim, cansada, encharcada em suor e vi que
tinha perdido 122 calorias. Claro que quando depois desse esfalfamento todo fui
comer um iogurte grego com quase o dobro das calorias, quase morri e decidi
fazer outra coisa numa próxima vez. Mas tudo bem, vamos lá em frente que aqui a
moça aguenta. Eis que os olhos da E deram com aulas de Sh’Bam. Perguntamos o
que era e lá nos dizem que é uma aula animada, de dança misturada com
exercícios de aeróbica, fofinhos, com grande dinâmica e que ‘as meninas adoram’.
Sim senhor, vamos lá dançar. E pronto, eis que ia morrendo ao som do I Will
Survive da Gloria Gaynor (uma ironia da vida). Para já, o grande problema foi
eu encarar a aula como se eu fosse protagonista da Fame (lembram-se?) e que
iria saltar, abanar a anca, os olhos, as mamas, fazer flexões, loopings sem me
cansar. Achei que Iria conseguir ser sensual enquanto a professora gritava: ‘ABANAR
AS ANCAS! TOCA A ABANAR OS OMBROS! Mais. MAAAAAIIIISSSSSSSSS Mais meninas!’. E
nós lá tentávamos mais e mais e aquilo até se fazia melhor se as mamas tivessem
outro tamanho. Olhem, por exemplo o tamanho da professora, que eram duas borbulhas.
Quem, como eu, tem protuberâncias que podem ter vida própria, pode ter
dificuldades em domesticar a coisa. Quando descemos elas ganham balanço e
chegam a baixo com ímpeto e quando subimos ainda vão a descer. Há uma descoordenação
que a dada altura comecei a ter flashbacks. Vi a minha vida desde que nasci, em
camara lenta e quando me senti prestes a cair, eis que a doida varrida da professora
grita virada para mim: ‘Aqui ninguém desiste!’ E a minha vontade foi perguntar:
‘e já alguém morreu?’ Mas ela, percebendo da coisa e sendo mestre na arte de
prolongar o sofrimento, coloca a música Footloose e Deus e o mundo sabem que eu
nunca resisto a esta música. Entre sofrimento, entre a vida e a morte, dancei-a
como se fosse morrer no fim. E voila, não morri, fiquei em mau estado mental
porque dois dias depois meti-me a fazer Bodycombat com um serial killer
depilado. Resultado? Hoje tive de pedir ajuda para colocar desodorizante, meus
braços só levantam 1/3 do que seria normal. Talvez um dia destes o sofrimento
se transforme em pura adrenalina, até lá resta-me o riso que me ataca de cada
vez que olho para o espelho da aula e vejo aquela aluna vermelha de cabelo à
Tina Turner a fazer figuras tristes e nem percebo que ela sou eu.
Oh pá! Não aguento mais a rir! Juro! "protuberâncias que podem ter vida própria" é do melhor que já li! Ahhhh abençoada sejas que me fazes rir! Beijos
ResponderEliminar:) obrigada eu por me leres
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