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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Carta Aberta ao senhor Leonard Cohen (alguém das suas relações que a traduza)


Começaste no Pavilhão Atlântico como já tinhas começado no Passeio Marítimo de Algés, com a sugestão: Dance me to the end of love. E tal como já te tinha respondido então, o convite foi aceite. Antevi, logo ali, que a coisa ia ser dolorosa. Não há como passar em revista toda a minha história de amor e desamor, de paixões e despaixões (vês, por ti invento palavras) sem que a coisa doa um pouco. Mesmo que estejamos curados, ir lá atrás traz sempre um sabor a dor. Mas contigo não há como não ir. Vai-se num embalo que podendo doer, sabe bem. Revemos, embalos pelo som, pelas palavras e certas que todas nós estávamos que quando te ajoelhavas era para cada uma de nós, toda a nossa vida passou ali entre a voz (tua) e os versos (nossos). Doloroso mas bom. Quase uma catarse que também são necessárias.

O cheiro geral pode ser a naftalina, da malta que, de uma maneira geral, viveu o 25 de Abril e com ele rompeu a carne. Mas mesmo para mim, que nessa data tinha uns míseros dois anos, vivi a liberdade de paixões assolapadas como quem ama quem viveu amordaçada.

E dizas-me, a dada altura, I’m your man, e sabemos que não és, mas através de ti os homens que foram meus disseram-me coisas belas. Cantaram-te.

E devíamos estar todos de pé, não sentados, porque não se dança sentado, precisamos de nos encostar ao outro, e mexer para a direita e para a esquerda, num compasso que não é de espera mas de chegada. Isso não se faz. Não te volto a ouvir sentada. Por isso, quase no fim, a malta lá da frente libertou-se das amarras e foi-se colar aos teus pés, arrebatados por ti e pelos amores que contigo viveram. Foi bela a noite, sabias? Já não vais para novo, mas aposto que em ti corre o sangue de um potro, novinho e cheio de vida. Como não correr?

Ontem voltaste a arrebatar-me e tive de te aceitar. É mais difícil controlar ali, no Pavilhão Atlântico. Em minha casa, no meu sofá, quando começas a dizer demasiadas verdades tapo-te a boca. Calo-te. Ali não tive como. Foi perfeito, já tinha dito? Perfeito ao cantares a imperfeição de que muitas vezes é feito o amor.

E se excluirmos aquela história belíssima que deverias morrer em cima de uma mulher, ontem foi uma boa noite para se morrer… de amor, amor, amor.



(obrigada ao meu amor que raramente aqui vem, mas que sabe que não poderia deixar o Cohen ir embora sem me voltar a juntar a ele. Obrigada. Que venham mais seis que, entre altos e baixos, colinas e montanhas, planaltos e planícies, cá nos aguentamos)

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