Odemira faz-me lembrar um colega da faculdade, o Artur, que
era um Angolano mestiço, o pai era angolano e a mãe portuguesa. E ele com piada
dizia: eu estou sempre desenquadrado, em Angola sou um branco e em Portugal sou
um preto. Odemira padece da mesma característica: é alentejana mas não parece.
Aquilo tem mais desníveis geográficos que a minha aldeia em Trás-os-Montes e as
pessoas têm tanto de simpáticas, como os verdadeiros alentejanos, como de
antipáticas (como umas que eu cá conheço). Por fim, não pensem que se come
muito bem por lá, ou pelo menos, não pensem que a comida é tipicamente
alentejana, que aquilo que eu comi tanto podia ter sido no Alentejo, como no Minho
ou mesmo na Corunha. Aliás, basta pensar no arroz árabe que veio a acompanhar a
carne assada e logo, logo percebemos que a tradição já não é o que era. Salvam-se
as migas maravilhosas do primeiro dia, que só não açambarquei toda a travessa
porque já tenho boias que cheguem. Mas Odemira tem coisas giras, que tem. O rio
que rasga a vila é verde e parecia um filho do meu douro. A ponte também me fez
lembrar a ponte velha da régua e há ali um saber estar de quem aprecia o tempo
a passar devagar, devagarinho. Por isso, se me perguntarem se lá voltava, a
resposta é sim, sem grande convicção, mas sim.
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