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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

apresento-me


 

Às vezes penso em mim. É um exercício que todos devíamos fazer, em vez de catalisarmos as vidas dos outros, refletirmos a/na nossa. E ao pensar em mim, ao refletir o que sou e o que tenho sido e o que poderia ser, noto que esta cabeça maravilhosa só podia dar-me pesadelos pela complexidade que encerro. Tanto leio ensaios sobre educação, como devoro uma boa biografia, como me esparramo num excecional romance, como como ao pequeno-almoço um policial e, salve-me Santo Agostinho não conseguir ler Paulo Coelho nem Nicholas Sparks. Li de fio a pavio Marx, devorei Carl Sagan com a mesma alegria com que leio a Máxima e a vogue. Entre a Pais e Filhos meto uma Happy. Adoro o Jornal I e o Publico, mas deito sempre um olho ao Correio da Manhã. Adoro arranjar-me e sentir-me bonita, da mesma forma que amo os sábados em que me visto e nada condiz com nada, em que pareço um maltrapilho. Se o vinho tinto me eleva o espirito, o branco solta-o. Aprecio um bom charuto, mas detesto o cheiro do mesmo quando não sou que estou a fumá-lo. Adoro viajar, fazer malas e sair para o mundo e preciso, como de pão para a boca, ficar em casa, dias e dias, semanas e semanas, sem sair para lado nenhum. Aprecio um bom jantar, num sítio requintado, que me tratem como uma princesa, da mesma forma que às vezes só me apetece comer um bom bitoque naquelas tascas onde existem baratas a nadar de costas no molho.

Sou capaz de passar dias e dias a ouvir ópera de tal forma alto que parece que está alguém aos gritos na minha sala, da mesma forma que me divirto à brava ao ouvir o José Cid e sei as letras de cor e salteado. Choro ao ouvir Antony, Rodrigo Leão, mas consigo apreciar uma Rita Guerra, e há músicas de Paulo Gonzo que me fazem cantar alto e com alegria ‘Sei de cor’. Gosto que me liguem, que me mimem, que digam que sou única, mas também gosto que me esqueçam, que me deixem no canto a lamber feridas. Gosto de ser romântica, fazer surpresas, mas também esqueço o outro, desligo e firo sentimentos. Adoro a minha aldeia, mas já não viveria lá. Gosto de me sentir citadina, mas sem viver numa cidade demasiada intrincada. Gosto do anonimato, mas aprecio um ‘olá’ num sitio onde não era suposto conhecer ninguém. Tenho dias que aposto toda a minha paupérrima fortuna em como o mundo é gigante e outros que afirmo convictamente a sua pequenez.

Nada é constante em mim, nada e pensar-me também me provoca uma certa dor de cabeça. Vou tomar uma aspirina efervescente que me sabe a sumol laranja.

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