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quinta-feira, 6 de março de 2014

Adeus carro


Acabei de vender o meu carro. Estava emocionada. Passei com ele cinco anos da minha vida e deixando de lado aquela coisa de que coisas materiais são coisas materiais e nada mais, a verdade é que se elas fazem parte do nosso quotidiano, custa deixar de as ter. Foi o carro com que andei quando andei de bebé, o carro onde a minha filha andou três anos, o carro que me viu a rir e a chorar, onde a minha música era o nosso mundo. Um carro que eu conhecia de cor e salteado, as taras e manias. Amanhã vou chegar à garagem e ele não está lá. Quando olhei para o rapaz (Gonçalo) que é o novo dono, senti que, afinal ia para boas mãos. Voltei, nos olhos do rapaz a olhar para o carro, atrás no tempo e lembrei-me da primeira vez que tive o meu carro. Da emoção que é. Da sensação de independência. Nessa altura, só vemos coisas boas a passarem pela cabeça, o seguro, a gasolina, as vistorias não entram no cérebro. É só liberdade e sol na face. Hoje não possuo essa ingenuidade, mas custou-me saber que não o volto a ver. Mas de repente, o puto, estava maravilhado. Olhava para o carro com emoção. Disse-me: vou cuidar muito bem dele! E eu soube que sim, que ia. No pai, vi a angústia de quem vê os filhos crescerem e a saírem do pé. Ao ouvido do senhor eu disse: nunca vou dar carta de condução à minha filha. E ele respondeu-me, também ao ouvido: mas ela vai tirar na mesma.

Vim embora a sorrir. A vida é mesmo assim: com os pais a fazerem fintas aos filhos e os filhos a, cada vez melhor, saberem as voltas a dar para levarem a água ao seu moinho.

Resultado disto tudo: estou apeada. Ou se quiserem que seja moderna, estou feita uma mulher ecológica.

2 comentários:

  1. Nunca tirei a carta, apesar de ter sempre os meus pais a insistirem que o fizesse, pela liberdade que iria adquirir. Hoje, estou a estudar o código para o fazer de uma vez por todas, apenas por perceber que podia ajudar com as coisas da mobilidade, mas não por desejar fazê-lo ou porque necessite neste momento. É para prevenir. Ainda continuo sem perceber essas coisas das independências dos carros, mas gostei muito da tua história*

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