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quinta-feira, 13 de março de 2014

quando a mulher vira homem


 Quando a Maria Filomena Mónica, no seu livro biográfico, afirma a discriminação de que foi alvo quando decidiu ir tirar o doutoramento e deixar o seu filho pequeno com o pai (marido dela) fazendo o mesmo que o seu marido tinha feito após o nascimento do filho, fiquei a pensar se seria capaz de o fazer e até me indignei com quem teve o dedo apontado à senhora. Todos os que entenderam a gana do seu marido em sair da sua zona de conforto, a casa e a família, e ir fazer um doutoramento longe sacrificando a sua ausência para com o filho bebé, foram os mesmos que criticaram Filomena Mónica quando, regressado o marido, ela foi para Inglaterra doutorar-se. Não há volta a dar. Isto mais não é do que a visão discriminatória dos géneros. Ontem estava a ler a revista do Expresso desta semana nomeadamente o artigo sobre Christine Lagarde e há uma parte em que, pelo facto de ela ter deixado os seus filhos pequenos, um com 9 e outro com 7, com o pai em Paris indo ela para Chicago, lhe perguntaram se não se tinha arrependido por perder muito da infância dos filhos, ela responde: ‘ tive de aceitar que não podia ser bem sucedida em tudo. Estabeleci prioridades e aceitei muita culpa’ e depois remata ‘acho que não me faria essa pergunta se eu fosse homem, essa é que é a verdade. Bem gostaria que alguns deles também sentissem um pouco mais de culpa’. O meu exercício é meramente teórico. Se não estivesse numa situação de grave iminência social e económica que viabilizasse a qualidade de vida da minha filha, dificilmente por um cargo melhor ou um ordenado absurdo, eu a deixaria. Mas enfrentando-me sei que se tivesse lido a entrevista e ela fosse a um homem, estas páginas não me teriam deixado a pensar, até porque a pergunta não seria feita. Lagarde tem razão. Há anos e anos no lombo da sociedade de pais que saem em busca de uma vida melhor e as mães ficam por perto das crias, relegando para segundo plano a parte profissional. É histórico. É cultural. Sei disso. Mas algo grave se passa comigo, que me via sem preconceitos, e afinal tenho-os. Não admiro uma mulher que deixa um filho para subir mais na carreira. Não vejo como um ato de nobreza de carater e sei, assumindo isto publicamente, que estou a ser preconceituosa. Mas não admiro. Admiro mais, muito mais aquela mulher que hoje entrevistei e que sendo presidente de uma Associação, num meio de homens, quando tem um jantar onde tem de ir representar a associação, primeiro vai a casa, deixa o jantar para os filhos em cima da mesa e sai para o outro jantar; ou daquela vereadora que antes de aceitar o cargo perguntou se iria trabalhar muito aos fins de semana, porque queria acompanhar os filhos nesses dias. Acho que quanto mais a politica se aproximar do comum dos mortais, melhores pessoas terá. Gosto das diferenças entre homens e mulheres, das diferenças de atuação de cada um, apenas aprecio a igualdade de oportunidades, que está longe de existir.

5 comentários:

  1. Ora aqui está um post interessante de me debruçar.

    Bom, julgo que "cada cabeça, sua sentença". Aprecio a mulher que não larga os seus filhos. Mas aprecio igualmente o casal que divide as tarefas, permitindo à mulher cumprir esse papel no exterior e assumir os seus compromissos para além da "família".

    Acredito também que nesse caso, é também uma grande prova de confiança que a mulher entrega ao Pai/Tutor dos seus filhos (isto numa analise meramente a casais de formato tradicional). Se forem "duas mães", é mais simples, certamente :D

    De resto, sim.

    É bom pais e mães serem diferentes. Homens e mulheres cultivarem as suas especificidades. Mas um casal é uma equipa. E a equipa muda de funções, reveza-se, complementa-se. O que interessa é haver momentos para tudo. E a educação ser providenciada com amor e qualidade.

    Quanto ao que a criança achará no futuro... isso já não sei. O que sei, é que é importante estarmos confortáveis com as nossas decisões. Se Lagarde está, óptimo! Oxalá delas nunca se arrependa. E isso é que verdadeiramente interessa.

    Fazermos o que achamos ser o mais correcto, para nós e para os outros, a todo tempo. Beijos mil Carlinha. E sim és uma grande Mãe. É a tua escolha e estás a cumpri-la magnificamente. Mais beijos.

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  2. Tinha muito para pôr aqui, mas a verdade é que concordo contigo em absoluto. Um beijo enorme*

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  3. Olá, é a primeira vez que por aqui passo. Gostei de ler este teu texto, sinto o mesmo. Embora respeite todas as opções não me sinto nada fascinada por mulheres que têm vidas profissionais extraordinárias tendo por isso de abdicar do seu tempo com a família. A igualdade de oportunidades é fundamental até para quem optar por ficar com a família nunca sentir que foi uma opção menor. Fui mãe pela primeira vez aos 26 anos, tinha muita coisa para provar na vida, muitas ambições e desejos. Fui mãe pela quarta vez aos 39 anos e sinto que se pudesse fazer uma pausa na minha vida profissional me sentia muito mais realizada. Tenho pena que não existam estas opções no nosso País. Obrigada pela partilha, vou voltar aqui mais vezes.

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    1. Antes de mais os meus parabéns. Adoro familias grandes. Acho uma raridade nos dias que correm e acho-o das maiores riquezas da socieade. Depois, obrigada por ter passado pro cá e ter deixado um comentário. De seguida... bem, não posso concordar mais. Aliás, eu acho que a igualdade de oportunidades deve ter em conta o lado maternal e feminino. Afinal, é da diferença que vem o ganho. Acho que o caminho é, ainda, longo, mas estou certa que chegaremos lá. Obrigada uma vez mais.

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