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terça-feira, 24 de junho de 2014

O direito ao esquecimento


Foram duas conversas com duas pessoas distintas que hoje me trazem aqui. Nenhuma das conversas foi planeada ou elaborada de antemão. Surgiram assim do ar e, talvez por isso, o espanto ainda seja maior. Numa falávamos de diários de adolescência. Ela dizia-me que os deitou fora porque não quis deparar-se com o que lá tinha escrito. Percebi, porque eu não deitei fora o meu, mas nunca mais lá fui. Não o abro. Quis ficar com a seleção da memória que entendi ficar e esquecer aquilo que foi importante esquecer. E de como isso é importante: gerir o passado.
Hoje falava do direito ao esquecimento. Vinha isto a propósito do que as mães escrevem sobre os filhos nos blogues. Fica escrito. Fica ali para todos os que quiserem ler. E muitas mães não possuem filtro. Expõem uma vida que não pediu para ser exposta. As agruras da adolescência muitas vezes comentada dão origem a risos alheios, mas a dores terriveis e dificeis dos próprios. Dizia-me essa minha amiga ‘ revelar intimidades da adolescência que só são comentadas em família ou na intimidade, não consigo qualificar. E hoje já se começa a falar no direito ao esquecimento. A vida dá muitas voltas e “ esquecer” sempre foi e será uma das condições para a felicidade e sobrevivência do homem. Um dia acordam e gostariam de não terem escrito coisas que não conseguem fazer desaparecer e que se colou à imagem como uma segunda pele’, e eu não podia concordar mais. É por estas e por outras que espero ter sempre discernimento no que devo ou não contar da minha filha porque ela tem direito à sua privacidade, e acima de tudo, aos seus esquecimentos.

4 comentários:

  1. Concordo tanto com isto. Fico mesmo arrepiada com o que me parece ser uma devassa da intimidade de algumas crianças e jovens. Posso estar a ser muito "púdica" mas coisas supostamente banais como uma foto do filho cheio de febre com os olhos entreabertos fazem-me imensa confusão. Posso expor-me, ainda que no anonimato, mas também espero ter esse discernimento com o meu filho...

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    1. É isso mesmo. E o minimo que devemos aos nossos filhos, é respeito. Obrigada e beijinhos

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  2. Essa é a questão que me coloco frequentemente quando escrevo.Onde traçar a linha limite.

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    1. É a parte dificil, mas és uma pessoa ponderada e sei que sabes até onde achas que deves de ir:)

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