Foram duas conversas com duas
pessoas distintas que hoje me trazem aqui. Nenhuma das conversas foi planeada
ou elaborada de antemão. Surgiram assim do ar e, talvez por isso, o espanto
ainda seja maior. Numa falávamos de diários de adolescência. Ela dizia-me que os
deitou fora porque não quis deparar-se com o que lá tinha escrito. Percebi,
porque eu não deitei fora o meu, mas nunca mais lá fui. Não o abro. Quis ficar
com a seleção da memória que entendi ficar e esquecer aquilo que foi importante
esquecer. E de como isso é importante: gerir o passado.
Hoje falava do direito
ao esquecimento. Vinha isto a propósito do que as mães escrevem sobre os filhos
nos blogues. Fica escrito. Fica ali para todos os que quiserem ler. E muitas
mães não possuem filtro. Expõem uma vida que não pediu para ser exposta. As
agruras da adolescência muitas vezes comentada dão origem a risos alheios, mas
a dores terriveis e dificeis dos próprios. Dizia-me essa minha amiga ‘ revelar intimidades da adolescência que só são comentadas em família ou
na intimidade, não consigo qualificar. E hoje já se começa a falar no direito
ao esquecimento. A vida dá muitas voltas e “ esquecer” sempre foi e será uma
das condições para a felicidade e sobrevivência do homem. Um dia acordam e
gostariam de não terem escrito coisas que não conseguem fazer desaparecer e que
se colou à imagem como uma segunda pele’, e eu não podia concordar mais. É
por estas e por outras que espero ter sempre discernimento no que devo ou não
contar da minha filha porque ela tem direito à sua privacidade, e acima de
tudo, aos seus esquecimentos.
Concordo tanto com isto. Fico mesmo arrepiada com o que me parece ser uma devassa da intimidade de algumas crianças e jovens. Posso estar a ser muito "púdica" mas coisas supostamente banais como uma foto do filho cheio de febre com os olhos entreabertos fazem-me imensa confusão. Posso expor-me, ainda que no anonimato, mas também espero ter esse discernimento com o meu filho...
ResponderEliminarÉ isso mesmo. E o minimo que devemos aos nossos filhos, é respeito. Obrigada e beijinhos
EliminarEssa é a questão que me coloco frequentemente quando escrevo.Onde traçar a linha limite.
ResponderEliminarÉ a parte dificil, mas és uma pessoa ponderada e sei que sabes até onde achas que deves de ir:)
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