Bolo de aniversário da Marta. |
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sábado, 5 de julho de 2014
a minha forma de dizer 'gosto de ti'.
Tinha 13 anos quando a minha
mãe partiu a perna de uma forma violenta. Ficou de cama três meses sem se levantar
e, nessa altura, eu nunca me tinha chegado perto de um fogão. A partir daí tive
de começar a cozinhar. Lembro-me como se fosse hoje: a minha mãe dizia para
meter um pouco de água numa panela, eu colocava e ia com a panela pelo corredor
fora até ao quarto e perguntava-lhe ‘assim?’. Depois tinha de meter massa. Com
a minha mãe é tudo ‘ a olho’. Pegava nas minhas mãos ainda pequenas e ia pelo
corredor e perguntava ‘assim, esta quantidade?’. Aprendi a cozinhar. Minha inexperiência
era mais segura do que a inaptidão natural do meu pai. Quanto ao meu irmão…
bem, não faço ideia mas creio que de uma forma preconceituosa nem sequer
tentaram que ele cozinhasse. Foi aí que começou a minha ligação com a cozinha,
sem vontade própria mas também não me lembro de grandes angústias, tirando as
claras em castelo, à mão, para os bolos que a minha mãe me mandava fazer todos
os fins-de-semana. Custava que levantassem em nuvem. Doíam-me os bíceps. E quando
conseguia virar a vasilha por cima da cabeça sem que caíssem, já estava farta
do bolo que ainda nem bolo era. Houve ali um desamor. Anos mais tarde, em casa
da minha tia Palmira, já com uma batedeira laranja e branca, hoje completamente
vintage, as claras subiram em flecha.
Enamorei-me pela doçaria e foi até hoje. Sonho com batedeiras. Sonho com pratos
com pé da vista alegre. Ou bordalo pinheiro. Ou mesmo de madeira vistos na net
por quem percebe da coisa. Gosto de fazer bolos em casa e gosto do cheiro que a
sua cozedura imprime à casa. Gosto de ter a Maria sentada na banca a ver. A
perguntar. A comer a massa crua. Gosto de os espreitar no forno e sei, só pelo
borbulhar da massa crua, se o bolo vai ficar seco ou não. Se vai crescer ou
não. E procuro mil receitas e misturo-as criando o caos diversas vezes e o
paraíso menos vezes. E gosto de oferecer um bolo. Não me imponho. Pergunto se
posso. Os bolos são como a roupa de um casamento ou de um aniversário: deve
servirmo-nos. Por isso, pergunto se posso dar este bolo ou o outro como prenda
de aniversário. A Marta pediu-me para fazer o seu bolo de casamento. Fiz a
medo. Mas com muito amor. Dediquei-me a ele com o intuito que a massa
explodisse na boca de quem o comesse. E pelos seus 40 anos, disse-lhe que
gostava de lhe oferecer um. Não ficou tão bonito como tinha imaginado. Mas
ficou com o sabor que sabia que ia ficar. Corri seca e meca à procura de um
ingrediente. Fi-lo. Olhei-o e fotografei e só quando o chef do restaurante onde
decorreu o jantar me disse que estava lindo com os olhos a brilhar, é que o meu
coração acalmou. Foi de chocolate. Com flores, porque a Marta merece. Porque a Marta me fez soltar o riso mil vezes quando mais precisei e me deu colo quando nem o tinha pedido. Porque me adivinha as alegrias e alivia as dores de alma. Para a marta. A 'minha marta'.
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Gosto tanto, tanto de ti.
ResponderEliminarFoi a melhor prenda do mundo.
oh, fico tão feliz, mas tão feliz!!! <3
EliminarMuito bonito. Os bolos e a mensagem!
ResponderEliminaramiga, falta aqui a tua tarte de maça que também farei com todo o love deste mundo
EliminarO bolo estava mesmo muito bom!
ResponderEliminarobrigada. beijinhos grandes
EliminarO do casamento eu já tinha visto, é arrasador!! O do aniversário tem um ar maravilhosamente jovial e florido tal e qual como a Marta merece!
ResponderEliminarmuito obrigada. Adoro elogios aos meus bolos. Fico sempre insegura, porque é como comprar um apeça de roupa para outra pessoa: sera que serve? :)
EliminarSó tenho pena de morar longe, senão os teus bolos iam ser fotografados por mim e com todo o orgulho do Mundo! :) Um beijo enorme!
ResponderEliminarAnda para cá. Aqui há mais sol. É verdade que falta a pronuncia quente do Porto, mas faço-te dia sim, dia não um bolo. Conheço boas casas viradas para o Tejo que mando pintar de verde do douro... anda.
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