Quando o Fernando, anestesista mas
que ali estava presente como amigo, me perguntou como eu estava disse-lhe
apenas: quero ver a minha filha. Estava no recobro depois de uma anestesia
geral para me fazerem o parto, que esta coluna não aguentaria as dores de parto
e muito menos uma epidural. Por isso, fui a última pessoa a vê-la. Ela estava a
mostrar-se ao mundo, ao embevecido pai, à avó, à titi e ao tio Luis, ausente de
tudo e presente no mais importante da família. E eu num outro canto. O Fernando
disse-me que iria busca-la, mas tinha de ser rápido. E foi. E trouxe-ma e eu
olhei-a e vi-a pela primeira vez, de olhos fechados, cara redonda, muito confortável
numa roupa escolhida a dedo e desconfortável por lhe faltar o meio quente do
meu útero. Ela estava calma para quem fora obrigada a sair mais cedo do que
tencionava. Depois abriu os olhos e olhou-me. Não sei explicar, mas foi quase
como que em forma de pergunta: onde estavas mamã? E aquele meu primeiro olhar sobre
ela vem-me à cabeça amiúde, sempre que a sinto mais triste, mais fechada, mais
melancólica. E tal como naquela vez, formo-me em concha e aconchego-a a mim.
Digo-lhe que a amo mais que tudo. Talvez por causa deste nosso principio,
receio sempre não estar na mesma sala do que ela quando ela precisa de mim.
Luto sempre contra mim mesma para a deixar na escola, para a deixar ir nas excursões,
para a deixar na casa de amigas, para a deixar a viver a vida que é dela e não
minha. Luto. Luto mesmo. Estou sempre a dizer a mim mesma: ela é do mundo. Não
a posso impedir de crescer livre. Não a quero espartilhada pelas minhas
inseguranças, temores, angustias, que não quero… mas a nossa história não
começou bem. Eu sei disso. Ela sabe disso. E talvez este nosso princípio
justifique a dificuldade que temos de largar uma da outra. Porque temos. Porque
nos agarramos imenso. Porque nos beijamos mais ainda e depois largamo-nos: ela
para viver a vida dela e eu para tentar viver a minha, com a diferença de que a
minha vida é, efetivamente, ela.
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ResponderEliminarMaravilhoso, maravilhosas!
ResponderEliminarGostei muito.
ResponderEliminar"Conseguiste", Frida! :) e nada mais importa. Entre tantas vitórias que já somas na vida, a derradeira chegou. Lembra-te sempre disso. É que és capaz de tudo... De TUDO mesmo! Beijos.
ResponderEliminaracho que todos nós somos capazes de tudo. A maior força vem de nós. Não tenho a menima duvida sobre isso. beijinhos e mais uma vez PARABENS!!!
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