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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

reflexoes sobre a maternidade


 

Esta semana foi uma semana em que voltei aos 15 anos em que vivi sozinha. Voltei ao deitar-me no sofá, sem jantares, sem banhos, sem histórias de encantar, e só me levantava para morder uma fruta. Voltei aos idos anos em que não tinha nenhuma responsabilidade a não ser manter-me alimentada de corpo e alma. Quem viveu anos e anos só e gostou, sabe o quanto necessitamos dessa reclusão de quando em vez; Quem se alimentou da sua própria companhia, sabe que necessita dessa introspeção para seguir em frente. Sou um pouco misantropa. Sempre gostei do meu silêncio, da minha casa, da minha solidão. É com esforço que, por vezes, tenho de sociabilizar. Não ressaco festas nem jantares em grupo. Vivo numa esquizofrenia a que já me habituei entre a existência em mim de uma mulher intensa quando está em grupo e mulher que busca o silencio dos dias, quando fecha a porta de casa. Esta semana a minha filha foi passá-la com o pai. Fiquei a sós. Pensei e organizei, mentalmente, um plano para cada tarde pós-trabalho: um copo numa esplanada, uma ida ao cinema, um sushi… nada fiz. Voltei todos os dias a casa e deitei-me no sofá com as revistas que vão desde a Sábado à Vogue; os livros na companhia da minha música e a liberdade de não ter obrigações de mãe e de esposa para fazer. De vez em quando ia ao quarto da minha filha e o coração apertava-se de saudades, mas sabê-la bem, fazia-me usufruir da minha curta liberdade. Sempre temi transformar-me numa daquelas mulheres que se esgotam na maternidade. O meu amor pela minha filha é tão gigante que temi que sem ela, definhasse, que a buscasse ao fim de umas horas de ausência, que a procurasse na sua cama à noite. Amo-a tanto, que achei a dada altura que nunca mais conseguiria ser plena sem ela. Fico feliz por perceber que não sou assim. Fico feliz por entender que, sabendo que ela está feliz, eu posso ser egoísta de vez em quando e viver as minhas saudosas horas com o meu sofá.  Amanhã vou ter com ela e vou com outra força. Vou renovada. Vou a abarrotar de saudades. Antevejo um abraço bom, longo e três semanas de férias para gozarmos a companhia uma da outra, para gozarmos os nossos jantares, os nossos banhos, as nossas histórias. Uma mãe é melhor mãe se não se anular… reformulando: eu sou melhor mãe se não me anular.
 

7 comentários:

  1. Minha amiga, como sabes, subscrevo na íntegra :) Fico feliz por mais essa tua conquista. Saudades mil.

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  2. Acho que também devia fazer essa experiência... E ver como corre.

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  3. Oh, eu passei este ano os primeiros dez dias de férias sem o meu filho, que estava com o pai, na praia, divertido, e achei que ia morrer! Ainda nao cresci o suficiente, e sei que tenho um gigantesco caminho pela frente. Beijinho

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    1. Joana, o caminho faz-se caminhando. Pode parecer uma frase estranha e um tanto ou quanto parva, mas é a realidade. Daqui a um ano estará mais e mais e mais forte:)

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    2. Obrigada. Gosto deste cantinho. Escreve mto bem, com mto sentimento. Um beijinho

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