Talvez não entendam se disser
que gosto destes dias invernosos. Durante anos e anos não entendia
que fascínio eles me causavam, mas hoje sei de onde vem este gosto pelo cinza
no céu, as meias grossas, o som da chuva lá fora, os livros espalhadas pelo
sofá, a cozinha a cheirar a bolo, a roupa quente em cima da pele… compreendi
que estes dias, mais do que quaisquer outros, me levam até à casa onde cresci
no meu norte. Os verões aqui são distintos. As primaveras também, mas os dias
frios são semelhantes àqueles que vivia em trás-os-montes. Enquanto mãe repito a minha
mãe: nos bolos, no pão caseiro, nas compotas que se abrem, nas revistas que se
leem em voz alta; enquanto filha, busco aqueles dias no sossego do sofá, na
manta que aquece até a alma. Até o telemóvel desligo, apenas para ficar assim,
solenemente a cheirar os meus invernos passados. Hoje seria o dia em que faria
a árvore de natal, mas apeteceu-me ficar a gozar as horas a passarem num langoroso
dia. Fica para amanhã ou para o próximo fim de semana, porque este eu quero que
passe quase sem passar, quase sem se dar por ele, quase não-vivido,
quase-sem-existir. Um adormecimento ao de leve. Porque há
dias de inverno que me aquecem por dentro.
Acho que hoje estivemos em sintonia...
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